Ter filhos não é apenas um ato biológico de reprodução isolado de tudo. Ter filhos deve ser uma parte de um projeto abrangente de constituição de uma família, deve ser uma componente de um projeto de amor e dádiva.
O mês de maio é um mês pleno de simbolismo e significado. É um mês feminino, é afectivo, é cheio de graça, é fértil, é livre. Maio deve o seu nome a deusa grega Maya que é a deusa da fertilidade. Maio é o mês da Mãe, o mês de Maria, o mês do coração, o mês dos trabalhadores, da abolição da escravatura. Mas maio é também o mês da família.
A Assembleia Geral da ONU proclamou em 1994 o dia 15 de maio como o Dia Internacional das Famílias, com o objetivo de destacar a importância da família, o seu papel na educação das crianças, reforçar a mensagem de união, amor, respeito e compreensão, chamar a atenção para a importância da família como núcleo vital da sociedade e para os seus direitos e responsabilidades.
A família é um agrupamento humano formado por duas ou mais pessoas com ligações biológicas, ancestrais, legais ou afetivas que, geralmente, vivem ou viveram na mesma casa. Mas há também preferencialmente, um laço que une estas pessoas, o amor. Diz-se que a família é uma célula, é a primeira sociedade que conhecemos, a primeira escola, a primeira igreja. A família é o pilar que sustenta as nossas vidas e a nossa sociedade. Não há modelos de família porque ela pode ser de todos os tipos e tamanhos. Um pai, uma mãe e um ou mais filhos são talvez o tipo mais comum de família, mas uma mãe e um filho são uma família, uma avó e um neto, dois irmãos, etc… Mas uma coisa é fundamental para o crescimento e perpetuação de uma família: que nasçam crianças.
Sabemos que cada vez nascem menos crianças em Portugal e no mundo. A razão não é totalmente conhecida, ou compreendida, mas pode estar relacionada com as condições de vida, condições socioeconómicas, desconfiança em relação ao futuro, dificuldade em encontrar parceiro, infertilidade. Há anos que não fazemos a renovação de gerações e sucessivamente o número de óbitos supera o número de nascimentos. Estamos a envelhecer e a comprometer o nosso futuro comum.
Há pessoas que optaram por não ter filhos e fazem-no de forma consciente. Há pessoas que não têm filhos ou não têm mais filhos porque a sua vida, as suas condições económicas, as suas circunstâncias não o permitem. Há pessoas que não têm filhos porque não calhou, não encontraram a pessoa certa, no tempo certo. Há pessoas que não têm filhos porque sofrem de uma doença, a infertilidade. Há pessoas que não têm filhos porque é demasiado tarde.
Há coisas que não podemos mudar, não estão ao nosso alcance, não dependem da nossa vontade, são inevitáveis. Mas há outras que podemos, antes que seja tarde.
O mês da Mãe, da família, da fertilidade, é o mês propício para refletirmos sobre isto e agir.
Na fertilidade, há um fator determinante e nem sempre considerado que é a idade, sobretudo a idade da mulher. A mulher nasce com a sua reserva ovárica completa e definida. Desde a primeira menstruação, a reserva ovárica da mulher começa a diminuir gradual e progressivamente e depois dos 35 anos a diminuição é abrupta. Isto significa que depois dos 35 anos a probabilidade de uma gravidez e da sua viabilidade até ao parto, começa a ser diminuta. A maior parte das mulheres pensa que há tempo, que poderá engravidar quando quiser. Mas não é assim. E há um sentimento comum nas mulheres e casais que tentam engravidar tarde e não conseguem: o arrependimento. A falta de informação, a falta de consciência da realidade biológica, o desconhecimento de métodos de preservação da fertilidade, levam a este arrependimento. E mesmo com recurso à procriação medicamente assistida, que traz sempre uma réstia de esperança, a taxa de sucesso em idade mais avançada, não é entusiasmante.
Ter filhos não é apenas um ato biológico de reprodução isolado de tudo. Ter filhos deve ser uma parte de um projeto abrangente de constituição de uma família, deve ser uma componente de um projeto de amor e dádiva.
Tal como planeamos o futuro, a carreira académica e profissional, devemos também planear a maternidade e a paternidade, devemos planear a família que queremos ter e que queremos ser, com a consciência que há um tempo para tudo.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher o que se plantou” (Eclesiastes 3:1,2).
Carla Rodrigues
Fonte: https://www.padresvicentinos.net/
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