O fascínio de Antônio-Frederico Ozanam pelos ideais franciscanos teve seu apogeu literário quando da publicação, em 1852, do livro OS POETAS FRANCISCANOS DA ITÁLIA NO SÉCULO XIII. Ozanam sempre foi muito devoto de São Francisco de Assis, pois admirava o estilo de pobreza do santo e como ele se dedicava aos pobres. Ele identificava muita semelhança entre a prática vicentina e o carisma franciscano, diante da proximidade com os pobres, encarnando esse ideal em sua vida cotidiana.

Encontra-se comigo uma edição de 1949, em língua espanhola, com sete capítulos distribuídos em 172 páginas, impressa pela Coleção Austral de Buenos Aires (Argentina). Embora Ozanam tenha escrito o livro em 1852, o mesmo só foi publicado após a morte dele, pela viúva Amélia Soulacroix. Para escrever o livro, Ozanam relata que visitou Assis, Pádua e Florença para coletar dados e efetuar a investigação acadêmica.

Assim ele inicia o livro: “Esta modesta obra não é, de modo algum, um livro de ciência nem um livro de religião. É uma publicação que analisa os versos extraídos de um manuscrito do século XIII, contendo cânticos que passaram por lábios de várias gerações, e que tinham sido injustamente esquecidos”.

Em “Os Poetas Franciscanos”, Ozanam revela seu grande entusiasmo por São Francisco e pelo carisma franciscano. Ele ilustra habilmente como São Francisco insuflou nova vida no espírito da Itália do século XIII e, por extensão de seus seguidores, no resto da Europa. Ozanam foi um dos primeiros a chamar a atenção para este aspecto da literatura italiana e a reavivar o interesse popular pelo santo de Assis.

No prefácio da obra, Ozanam ressalta como “a poesia dos primeiros franciscanos foi produzida naquele momento fascinante em que a arte começava a tomar inspiração popular”, traçando o desenvolvimento da poesia religiosa popular a partir dos textos com os quais os primeiros cristãos adornavam o interior das igrejas.

No capítulo 1, Ozanam vai analisar a poesia popular na Itália, antes e depois de São Francisco de Assis. O capítulo 2 é todo centrado na figura magnífica de São Francisco. No capítulo 3, o autor introduz o perfil dos primeiros discípulos do santo de Assis (Pacífico, Boaventura e Jacomino), apresentando a poesia popular de cada um. Sobre o discípulo Jacopone de Todi, Ozanam dedica os capítulos 4 e 5.  Já os capítulos 6 e 7, os mais curtos do livro, focarão na influência da poesia franciscana na cidade de Florença.

Como sabemos, Ozanam era um homem muito culto, fluente em vários idiomas e autor de dezenas de livros e artigos. Lecionava Direito Comercial (Lion) e Literatura Estrangeira (Paris), especializando-se no estudo da civilização, da filosofia e da poesia. Diante de toda essa erudição, esse livro sobre os poetas franciscanos é apontado um marco na obra literária de Ozanam, por abordar a história da literatura, do catolicismo e da Itália.

Ele é uma verdadeira autoridade no assunto, dizem os especialistas. Nenhum outro livro reproduz tão sincera e verdadeiramente o espírito do movimento franciscano, com todo o brilho de seu êxtase religioso e todo o encanto de sua simplicidade. Nenhum outro livro expõe tão claramente a evolução gradual desse espírito, ou testemunha tão convincentemente sua influência em todos os aspectos da vida e das artes humanas.

O principal fundador da SSVP é mencionado, no mundo acadêmico, como importante estudioso da literatura franciscana. Ele ingressou oficialmente na Terceira Ordem Secular Franciscana alguns anos antes de sua morte (Carta de Ozanam a Ampère, de 22 de junho de 1853). Por isso, o franciscanismo o considera tão importante. Inclusive, Ozanam fundou, em Paris, a primeira biblioteca franciscana popular, com a ajuda dos frades capuchinhos e dos membros da Ordem Terceira.

Por ter escrito esse brilhante livro sobre os poetas franciscanos, e como seu senso de dignidade sobre cada pobre estava tão próximo do pensamento de São Francisco, parecia apropriado incluí-lo também entre os “grandes franciscanos”, além de estar no rol dos “grandes confrades vicentinos”. Os franciscanos recordam a memória de Ozanam em 27 de dezembro.

No próximo mês, publicaremos um resumo do LIVRO DOS ENFERMOS, escrito por Ozanam e publicado pela viúva Amélia em 1858.

Renato Lima de Oliveira
16º Presidente-geral Internacional
Sociedade de São Vicente de Paulol