A justiça divina é uma das bem-aventuranças apresentadas por Jesus no encorajador “Sermão da Montanha” (Mateus 5, 1-12). Lá, Cristo nomeia os grupos de pessoas (chamados de “bem-aventurados”) que terão prioridade no Reino: os humildes de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores e os perseguidos por causa da justiça. É importante observar que a justiça aparece em duas situações durante o Sermão: os que têm fome e sede de justiça, e os perseguidos por causa da justiça. O Salvador cita essas pessoas que, impossibilitadas de alcançarem êxito por suas próprias forças, dependem da graça e do favor divino para atingi-lo.

Frederico Ozanam, cofundador da Sociedade de São Vicente de Paulo, além de conhecer perfeitamente o conceito divino de justiça, procurava adaptá-lo ao mundo, defendendo a “justiça social” como caminho para reduzir as desigualdades entre Pobres e ricos, entre proprietários de bens e empregados, entre industriais e operários. Ele mesmo, referindo-se à Parábola do Bom Samaritano, disse certa vez: “Só caridade não basta. Ela cura as feridas, mas não acaba com os golpes que as causam. Caridade é o que fez o samaritano ao derramar azeite nas feridas do viajante que foi atacado. O papel da justiça é impedir os ataques”.

A presença de Ozanam junto às classes desprotegidas produziu, nele, um elevado e aprimorado senso social. Além de tudo, como professor de Direito Comercial, ele estudou profundamente as relações no mundo do trabalho, apontando soluções que depois foram aproveitadas na encíclica “Rerum Novarum” (Papa Leão XIII). Não foi à-toa que ele escreveu muito sobre o tema, vindo a ser reconhecido como precursor da Doutrina Social da Igreja. Ozanam foi, acima de tudo, o apóstolo da caridade e da justiça social.

Ozanam discorreu sobre a noção de “justo salário”, afirmando haver exploração quando a retribuição real do assalariado é inferior às suas necessidades mais básicas. Portanto, seu ideal não ficou restrito apenas ao serviço das camadas excluídas da sociedade, minimizando os sofrimentos materiais, mas lutou, sobretudo, para que todos, oriundos de todas as classes, pudessem sentir a verdadeira necessidade da justiça social no mundo.

Ozanam, que era um cristão comprometido pelos direitos dos Pobres, sempre tratava do tema da justiça em suas palestras e em sua vida pessoal, profissional e acadêmica. Ao comparar a caridade com a justiça, ele dizia que “a política só tem em conta a justiça, que fere, corta e divide; pelo contrário, a caridade tem em conta as fraquezas: cicatriza, reconcilia, une e não se contenta enquanto houver um mal sem remédio”.

E para nós, hoje, o que significa a justiça? Para nós, vicentinos, a justiça consiste em cuidar dos Pobres promovendo as mudanças necessárias nas estruturas da sociedade atual, como por exemplo, lutando pela justiça social e pelos direitos dos excluídos. O forte senso de justiça era uma das principais virtudes de Ozanam, e obviamente deve ser uma qualidade esculpida em todos os vicentinos. Frederico Ozanam e os demais cofundadores souberam viver intensamente esse princípio e lutaram, com coragem, pela defesa dos Pobres, pela justiça social e pela dignidade dos mais necessitados.

Renato Lima de Oliveira
16º Presidente Geral da Sociedade de São Vicente de Paulo

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