Lições que aprendemos durante a pandemia. 2: Uma oportunidade de trabalhar pela justiça social

por | jul 8, 2020 | Formação, Reflexões | 0 Comentários

A cada semana, um membro da Família Vicentina partilhará conosco uma experiência vivida nestes últimos meses. A partir do íntimo de seu coração, irá propor uma mensagem de esperança, porque (estamos convencidos) também podemos tirar lições positivas desta pandemia.

A crise do COVID-19 exacerbou a polarização social, econômica, política e ambiental que já existia antes do final de 2019 (quando a pandemia começou).  Existiam pressões sociais, particularmente de minorias e grupos vulneráveis da população, em muitos países.  Estas pressões sociais foram reforçadas pelas crises de migração, um triste fenômeno que impacta muitos países desenvolvidos (como Estados Unidos, na Europa e na Ásia), mas reflete a pobreza e a exclusão dos países em desenvolvimento.

Eduardo Marques Almeida
SSVP – Brasil

A economia vinha reduzindo a sua força na América Latina e Caribe, assim como em vários países da Europa e Ásia, sem mencionar o continente africano, onde a grande maioria das pessoas vive em pobreza.

A polarização política existia nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, com líderes populistas que se aproveitam de grupos extremistas, erroneamente classificados como esquerdistas e direitistas, ou associados a comportamentos racistas.

A Igreja Católica também vinha passando por desafios muito difíceis antes do COVID-19, levando à redução sistemática do número de vocações religiosas e leigas.  E a Família Vicentina seguia o mesmo caminho na maioria de seus ramos.

COVID-19 trouxe e continua a trazer ao menos cinco mudanças que reforçaram os desafios que já existiam:

  1. Distanciamento social, devido às condições sanitárias, como forma de reduzir o contágio de milhões de pessoas e o falecimento de centenas de milhares;
  2. Profunda recessão econômica (a pior em séculos), que está causando um enorme crescimento do desemprego e perdas do valor de ativos (financeiros e físicos);
  3. Crise social, originada pela recessão econômica, com milhões de pessoas entrando (ou retornando) à pobreza;
  4. Relações digitais, que foram motivadas pela proliferação de plataformas digitais, que, por um lado, facilitaram e permitiram a comunicação entre as pessoas e grupos isolados, mas por outro, mudaram completamente a forma como as pessoas interagem;
  5. Negativismo e pessimismo, levando as pessoas a questionar os valores básicos da fé, esperança e solidariedade, em todos os aspectos sociais, econômicos, políticos e ambientais.

Evidentemente, tudo isso tem consequências sobre a vida da Sociedade de São Vicente de Paulo.  Cabe a nós, líderes vicentinos, refletir sobre as consequências destas mudanças sobre nossa missão.  Como definido pelo Conselho Geral Internacional, a missão da SSVP, é:

“Uma rede de amigos,
que buscam a sua santificação
através do serviço pessoal ao Pobre
e da defesa da justiça social.”

Devemos refletir como o necessário isolamento social e as “novas” relações digitais afetam e afetarão a nossa rede de amizade que foi a primeira Conferência de 1833.  Igualmente, a crise pode impactar positiva ou negativamente, nossa espiritualidade, nosso modo de buscar a santidade, através do nosso próprio conhecimento e da experiência de Deus.  É necessário que discutamos entre nós sobre as “novas” necessidades dos Pobres que servimos, diante do mesmo isolamento e da recessão econômica, assim como da melhor forma de realizarmos a mística visita à Sua casa.  Finalmente, como seguidores de Ozanam e seus amigos, devemos ter consciência dos novos desafios para gerar e evangelizar a justiça social.

Podemos, sem dúvida, transformar a crise em oportunidade para aumentar a relevância da Família Vicentina e da SSVP em sua missão.  Ela é necessária hoje, mais do que nunca.  A fé em melhores dias e a esperança de sermos guiados pelo Espírito Santo nos mostrarão o caminho para sedimentar a caridade, transformada no amor de Deus.

Desde as belas terras de Honduras, aonde vivo com a Andrea, quem conheci na SSVP há 35 anos, o isolamento social tem me levado a esta reflexão.  Estou certo de que muitos de nós passamos pela mesma experiência de Deus, seguindo e tentando entender nossa missão na “nova normalidade”.

Que o Beato Frederico Ozanam interceda por nossos Pobres, nossas famílias e todos os membros da Sociedade de São Vicente de Paulo.


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