O lema da SSVP adotado em 2013 (“Amor, Caridade e Justiça”) tem como intuito festejar os 200 anos do nascimento do cofundador da SSVP, o bem-aventurado Antônio Frederico Ozanam, e os 180 anos de fundação da Sociedade de São Vicente de Paulo.

Em sintonia com a instância mundial, o Conselho Nacional do Brasil adotou idêntica temática para estimular as Conferências a aprofundarem o estudo da vida, obra e virtudes de Ozanam. Nesta crônica, abordaremos o “Mandamento do Amor”, que, na verdade, é o princípio de tudo.

Talvez pela banalidade (e até vulgaridade) com o qual o tema é tratado pela mídia, muita gente considera que a expressão “amor” se resuma a relacionamentos pessoais, confundindo o nobre conceito com carinho, apreço ou até mesmo sexo. Mas, estamos falando aqui de um “outro amor”, o amor de Deus para com seus filhos, um amor incondicional, perfeito, imenso, inquebrantável.

O “Mandamento do Amor” pregado por Jesus Cristo é baseado em duas dimensões: a vertical, quando amamos a Deus; e a horizontal, quando amamos ao próximo. “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13), ensinou-nos o Filho de Deus.

Jesus Cristo, nosso salvador, fez do AMOR o centro da vida. Ele sabia muito bem que o ser humano só se realiza e é feliz por meio do amor. Foi esta a razão pela qual ele fez do amor o seu primeiro e maior mandamento: amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento; e o segundo, semelhante a este, é amar ao próximo como a si mesmo. Estes dois mandamentos são, portanto, a base da vida cristã e vicentina.

No Evangelho de João, temos uma ideia do que significa a palavra “amor” para a Providência Divina: “De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 13-17).

Na Primeira Epístola de João encontramos a origem do amor: “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor” (1ª Jo 3, 11). E mais à frente, João arremata: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus”  (1ª Jo 4, 7).

O Catecismo da Igreja é muito rico ao abordar o tema. Recomendamos a leitura integral do Artigo 7 do Capítulo 2 (dos itens 2.443 ao 2.449). Nesta parte do texto, encontramos a promessa de Deus ao abençoar os que ajudam os Pobres e ao reprovar os que deles se afastam: “Dá a quem te pede; não voltes as costas a quem pretende pedir-te emprestado; recebestes gratuitamente; pois dai também gratuitamente; é pelo que tiverem feito pelos Pobres que Jesus reconhecerá os seus eleitos. Quando a boa-nova é anunciada aos Pobres, é sinal de que Cristo está presente”, diz o magistério.

Para concretizar o pedido de Deus para que sirvamos aos Pobres, o catecismo também descreve que as obras de misericórdia são as ações caridosas pelas quais vamos ajudar nosso próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais. “Instruir, aconselhar, consolar e confortar são obras de misericórdia espirituais, assim como perdoar e suportar com paciência. Já as obras de misericórdia corporais consistem em dar de comer a quem tem fome, albergar quem não tem teto, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os mortos”.

Não só os Evangelhos ou o Catecismo de Igreja estão recheados do amor divinal, mas também as pessoas de São Vicente de Paulo, de Luísa de Marillac, de Ozanam e dos demais servos de Deus, veneráveis, bem-aventurados e santos oriundos da Família Vicentina.

Nós, confrades e consócias, precisamos saborear desse manancial inesgotável de virtudes, exemplos de santidade e de temor a Deus, e isso o fazemos estudando a vida desses iluminados, buscando apreender e vivenciar suas qualidades mais preponderantes diante dos Pobres aos quais assistimos.

Ozanam e São Vicente, por exemplo, concretizaram o cumprimento do “Mandamento do Amor” por meio de ações efetivas para aliviar o sofrimento dos Pobres. Fizeram-no no dia a dia, na vida real e cotidiana, assim como nós, no Século XXI, também podemos e devemos fazê-lo. O maior desafio dos membros da SSVP, hoje, é viver o carisma da Caridade entre os que sofrem, e ao mesmo tempo, fortalecer a espiritualidade vicentina nos ambientes “mundanos” em que estão inseridos.

Essa resposta afetiva e efetiva ao chamado de Deus pela mística dos Pobres é a principal missão do vicentino. Devemos estar alinhados com essa diretriz, senão perderemos nossa identidade. Às vezes percebemos alguns confrades e consócias mais pendentes a outros carismas (meritórios, sem dúvida), contudo tais “caminhos” lentamente provocam uma visão distorcida sobre a razão de existência da SSVP: o amor aos Pobres, a visita domiciliar e a forte espiritualidade centrada em Vicente e sua herança exemplar.

Não é fácil ser cristão nos dias de hoje. Nossos conhecidos e amigos de trabalho, na comunidade ou na escola, observam-nos e frequentemente nos indagam sobre a efetividade de nossas ações. Esse questionamento também foi feito, guardadas as devidas proporções, a São Vicente e Ozanam, pela sociedade daquela época, e ambos souberam responder com amor e gestos concretos, sem desistir ou fraquejar. Devemos ser sábios e santos para corresponder ao amor de Deus para conosco, ao mesmo tempo servir aos Pobres com doação integral.

Renato Lima de Oliveira
16º Presidente Geral da Sociedade de São Vicente de Paulo

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