“Eu vos dei o exemplo, a fim de que,
vendo o que fiz, façais o mesmo” (João 13, 15)
Certa vez, o papa Paulo VI disse: ”A Sociedade de São Vicente de Paulo é a escola onde se aprende e se pratica a caridade”. É claro que uma declaração dessas não é feita por um Sumo Pontífice a qualquer momento. Paulo VI estava, com esta afirmativa, valorizando o trabalho da SSVP e mostrando a seus membros que sua tarefa é uma das mais nobres.
Segundo a Regra, o tripé da espiritualidade vicentina está centrada na Bíblia, na oração e nos ensinamentos da Igreja. E acrescento: na vida e obra de São Vicente de Paulo, do Bem-aventurado Antônio Frederico Ozanam e nos exemplos extraordinários de Nossa Senhora, ela que foi modelo de mulher e mãe.
São Vicente de Paulo, nosso patrono e inspirador-mestre, pregava que a espiritualidade residia em dois fatores: na imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo e na confiança na Providência Divina. Para imitar Cristo, Vicente ensinava a seus amigos: “Olhem para Jesus e tentem copiá-lo. Em seguida, perguntem-se o que Cristo faria no seu lugar, diante de tal circunstância”. E quanto à providência de Deus, o santo padroeiro das obras de caridade dizia: “Entreguemos tudo à sábia Providência Divina. Tenho uma devoção especial de segui-la”. E quantas vezes, em nossas conferências, Deus nos supriu nas necessidades mais elementares?
O rol de virtudes elencadas por São Vicente, integrantes da espiritualidade de todo cristão, é extenso: caridade, humildade, paciência e obediência. “Há uma falsa humildade que se assemelha à ingratidão. E a ingratidão é o crime dos crimes”, escrevia numa de suas 30 mil cartas a amigos, parentes, religiosos e discípulos. Porém, o objeto da espiritualidade vicentina são os pobres que assistimos.
Para que nossa ação não seja confundida com mera filantropia ou assistencialismo, é preciso que os membros da SSVP estejam ligados a Deus através de uma vida espiritual intensa. Somos agraciados com a possibilidade de aprimoramento espiritual constante, pela prática da caridade e pela santificação pessoal. Somos parte de uma entidade que reúne oração e ação.
Da mesma forma que vemos Cristo na face de nossos assistidos, os pobres que visitamos devem ver as feições de Cristo em nossos rostos. Isso é um exercício constante, que envolve obstinação e perseverança. Deus nos deixou um santo caminho para nossa salvação: a SSVP. Por isso, nossa espiritualidade deve ser vivida as 24 horas do dia, em todos os instantes e lugares. Disse Jesus: “Vós fareis coisas mais extraordinárias que as minhas, se creres” (João 14, 12).
Nós, em algum momento, já paramos para refletir sobre a visita que fazemos aos nossos assistidos? Ela consiste numa espécie de sacramento, uma vez que vamos ao encontro de Jesus por meio dos mais carentes da mesma forma que o procuramos na hóstia consagrada, na Santa Missa. Aí está o centro da espiritualidade vicentina.
Renato Lima de Oliveira
16º Presidente Geral da Sociedade de São Vicente de Paulo
0 comentários