Ser jovem não é igual em toda a parte do mundo. A diversidade é boa. Porém, o meu lado idealista, por vezes (muitas vezes!) insatisfeito, deixa-me com um pouco de amargo, não pela diferença, mas pela desigualdade de oportunidades.
Participei nas Jornadas Mundiais da Juventude de 2000, que aconteceram em Roma, Itália, no Jubileu. Foi, sem dúvida, uma experiência marcante e uma oportunidade única. Fui integrada num grupo, de autocarro, com toda uma programação de peregrinação: passamos em Lourdes, em Taizé, e tudo isso fez parte do caminho. Recordo as catequeses em Viterbo, uma vila, a cerca de 80 km de Roma, que nos acolheu, o pavilhão onde ficamos alojados e recordo também, com muita emoção, o hino das jornadas “Emmanuel” que nos acompanhou durante toda a Jornada, a Vigília (e o maior frio da minha vida que apanhei) e a Eucaristia de Encerramento realizada na Universidade de Roma Tor Vergata. Era uma multidão de perder de vista – 2,5 milhões de jovens, segundo a imprensa local – e a mim as multidões emocionam-me, ainda mais estando ligadas por uma causa comum!
Este ano de 2023 temos o privilégio e a oportunidade de acolher as Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa, Portugal: receberemos jovens de todo o mundo, teremos o Papa Francisco em Lisboa, mas acima de tudo, teremos todas as comunidades e dioceses a envolverem-se nas pré-jornadas, nos dias da Diocese. As pré-jornadas já estão a ser um misto de curiosidade e surpresa, com as famílias e as comunidades paroquiais a acolherem os jovens de todo o mundo. Será que vamos ser bons anfitriões? Seremos capazes de comunicar com os jovens? Como será a dinâmica dos dias? O que vão eles fazer? São muitas questões que surgem, tão próprias da juventude. Angariações de fundos e alguma mobilização tem surgido. À boa maneira portuguesa, parece que só no início deste ano é que as pessoas se começaram a mobilizar de forma mais consistente, com a pressão do tempo, mas “há pressa no ar”, como diz o hino das JMJ Lisboa. Até aqui parecia tudo meio adormecido (até a comunicação social, que só acordou pelos piores motivos…).
Desde o final do mês de janeiro e até ao início de março, temos os símbolos das Jornadas, a Cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, a percorrer a Arquidiocese de Braga, a que pertenço. A Cruz peregrina, construída a propósito do Ano Santo, em 1983, foi confiada por João Paulo II aos jovens no Domingo de Ramos do ano seguinte, para que fosse levada por todo o mundo. Desde aí, a Cruz peregrina, feita em madeira, iniciou uma peregrinação que já a levou aos cinco continentes e a quase 90 países. Tem sido encarada como um verdadeiro sinal de fé. Desde 2003 que a cruz peregrina conta com a companhia do ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, que retrata a Virgem Maria com o Menino nos braços. Este ícone foi introduzido ainda pelo Papa João Paulo II como símbolo da presença de Maria junto dos jovens. Nos meses que antecedem cada JMJ, os símbolos partem em peregrinação para serem anunciadores do Evangelho e acompanharem os jovens, de forma especial, nas realidades em que vivem. E não é que a presença destes símbolos tem surpreendido? Os jovens e a comunidade em geral têm-se mobilizado, com manifestações publicas de fé e com os símbolos a percorrerem todo o território, planeando e fazendo incursões simbólicas (às quais já se têm habituado) como o salto do rally de Fafe… A manifestação simbólica é sempre uma excelente oportunidade de acolher, quer as Jornadas, quer o Cristo que nos visita naqueles símbolos.
Ser jovem não é igual em toda a parte do mundo. A diversidade é boa. Porém, o meu lado idealista, por vezes (muitas vezes!) insatisfeito, deixa-me com um pouco de amargo, não pela diferença, mas pela desigualdade de oportunidades. Lembro-me de ver, com emoção, em 2019, o anúncio das Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa, e de ouvir na comunicação social religiosa que seria uma oportunidade para a participação de jovens dos países de língua portuguesa, principalmente os que têm menos oportunidades. Sei que, entretanto, já se meteu uma pandemia, uma crise económica, uma guerra, um palco… também sei muito bem os custos que implica a vida de cada jovem… e talvez essa oportunidade tenha passado para segundo, ou terceiro, ou quarto plano… pode ser que ainda me surpreenda (espero que sim!), mas gostava tanto que muitos jovens de todos os países (e não só meia dúzia jovens em representação) vivessem esta riqueza e emoção que é participar numa peregrinação mundial de jovens, conviver e aprender com pessoas de todo o mundo. Há lá maior riqueza? E esta é uma riqueza ninguém pode tirar!
“A generosidade de uma família mede-se pelo modo como acolhe os seus hóspedes” (Mia Couto, “Mulheres de Cinza”). Desejo mesmo que nestas Jornadas Mundiais da Juventude sejamos, a todos os níveis, bons anfitriões. Temos essa oportunidade!
Sara Poças
Fonte: https://www.padresvicentinos.net/
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