Tomar decisões que envolvam assuntos ou temas estruturantes para a nossa vida é muito difícil, porque em cima da mesa podem estar assuntos que nos vão acompanhar durante muito tempo. Ou podem ser difíceis, só porque muitas vezes não gostamos de fazer pequenas mudanças.
Para mim o mês de setembro e outubro são meses de começos, recomeços e regressos, talvez dos mais difíceis de gerir para as famílias, principalmente aquelas que têm crianças ou jovens em idade escolar. São meses de tomadas de decisão e de novos projetos.
É nesta altura do ano em que me proponho a fazer mudanças na minha vida e defino novos objetivos. Mudanças tanto nas rotinas familiares, como nas rotinas pessoais e profissionais, porque durante as férias tive tempo para falar e pensar sobre elas, e consigo fazer uma verdadeira avaliação. Nas férias, consigo diminuir o ritmo e consigo voltar a re-situar-me enquanto pessoa, re-situar o que sou, o que quero e porque o faço, obrigo-me a fazer a distinção entre o que é essencial e acessório. E este é um exercício que só consigo realizar nas férias, é como um balão de oxigénio que vou utilizando durante o ano.
Setembro é o mês em que fazemos projetos, promessas e inúmeras intenções para o ano que se avizinha. A maior parte delas ficam pelo caminho! Costumo sentir que para mim o início do ano é em setembro e não em janeiro. Sinto isto, porque as férias para mim são milagrosas, permitem que me distancie do frenesim do mundo e me centre naquilo que é essencial, que relativize muitos assuntos que com o cansaço tomam proporções desnecessárias. No fim das férias, a minha capacidade para olhar para os assuntos, de enfrentar os problemas e situações também é outra. Mas confesso, no fim do mês de setembro estou pronta a ir de férias novamente!!!
Mas setembro é mês também de começos, o primeiro dia de aula para tantas crianças e pais. Mas também começos de vida, quem não se lembra de alguns primeiros dias que tivemos em setembro?
Para muitas pessoas, setembro é um mês de decisões difíceis, já que o tempo que tiveram nas férias as ajudou a tomar decisões difíceis, as quais vão ser estruturantes para a sua vida. Quem disse que tomar decisões que impliquem a nossa vida é fácil? Tomar decisões que envolvam assuntos ou temas estruturantes para a nossa vida é muito difícil, porque em cima da mesa podem estar assuntos que nos vão acompanhar durante muito tempo. Ou podem ser difíceis, só porque muitas vezes não gostamos de fazer pequenas mudanças.
Pelo contrário, para outras pessoas, o tempo de férias não foi bom conselheiro, ludibriou-as, criando-lhes falsas expectativas ou dando espaço para se fazer falsas promessas. E é o tempo ao longo do ano que as faz perceber que há situações que nunca vão mudar… Existem características ou temas que, independentempente do tempo que lhes dediquemos, não vão mudar porque são características intrínsecas, pertencem às pessoas, aos seus valores e princípios de vida… não é possível mudar. A única questão que coloco é: será que vamos ser felizes nessas situações? Será que queremos viver assim?
Quando acompanhamos processos destes, e eu enquanto assistente social acompanho alguns, só nos resta respeitar as decisões das pessoas, porque acima de tudo está a sua autodeterminação, acreditar que a Pessoa irá encontrar o seu caminho, mesmo que eu perceba que não é o melhor. Compreendo que são as pessoas que têm de fazer os seus próprios percursos e que eu não o posso, nem devo, fazê-los por elas, mas que as tenho de acompanhar no seu processo. Este processo de acompanhamento é difícil para mim; mesmo doloroso, quando acompanho situações em que sei que o caminho e as decisões tomadas não vão levar aquela pessoa a bom porto. Quando percebo que a mudança da situação é tão mais fácil do que aquilo que a pessoa sonha! Quase que por vezes me sinto, nestes processos, como se estivesse a assistir a um filme e me fosse dada a hipótese de mudar o guião. Para mudar este guião, que para mim significa alterar o rumo de vida daquela pessoa, bastaria mudar um pequeno pormenor, bastaria tomar uma pequena decisão, que para mim pode ser pequena, mas que terá um enorme impacto na vida daquela Pessoa.
Os caminhos e percursos devem ser respeitados e acompanhados… eu estarei sempre de braços abertos para ajudar a recomeçar o caminho e voltar a montar o puzzle da vida. Que todos os regressos, recomeços e começos sejam cheios de respeito, sabedoria, coragem e dignidade!
Inês Guerra
Fonte: https://www.padresvicentinos.net/
0 comentários