A paixão de Jesus e a paixão de João Gabriel Perboyre

por | set 10, 2022 | Formação, Reflexões | 0 Comentários

O Breve de Beatificação de João Gabriel Perboyre dizia em 1889: “Um consolo verdadeiramente celeste e uma honra sem igual tem sido reservados pela Divina Bondade a João Gabriel: o fato de que a Paixão que ele sofreu tem uma semelhança particular com a de nosso Redentor”.

Podemos estabelecer o seguinte paralelo:

  1. “Devo ser batizado num batismo, e quanto anseio até que ele se cumpra” (Lc 12,50)
    João Gabriel Perboyre desejou por toda sua vida o martírio. Ele disse a seus seminaristas mostrando-lhes o hábito de Regis Clet, que morreu como mártir em 1820: “Eis aqui o hábito de um mártir… Que honra se nós tivéssemos um dia a mesma sorte!”. E ele expressa este desejo mais de uma vez.
  2. Jesus começou sua Paixão após três anos de vida pública.
    João Gabriel começou, também ele, sua Paixão após três anos de ministério.
  3. Jesus no horto da agonia, exclama: “minha alma está triste até a morte”.
    João Gabriel sofre uma espécie de agonia espiritual que dura três meses, durante a qual lhe parecia que Deus o havia abandonado.
  4. Jesus, em sua agonia, foi reconfortado por um anjo.
    João Gabriel, em sua “noite escura da fé”, foi reconfortado por uma visão de Jesus crucificado que dissipou suas angústias e lhe concede paz profunda.
  5. Jesus foi traído e entregue por Judas aos soldados por 30 moedas.
    João Gabriel também foi traído e entregue por 30 moedas pelo filho de um catequista.
  6. Jesus tinha consigo três companheiros: Pedro, Tiago e João.
    João Gabriel, também tinha no momento de sua prisão três companheiros: Thomas que permanece fiel como São João; Felipe que fugiu como Tiago e finalmente um catequista, que mais tarde lhe nega, como Pedro.
  7. Jesus, no momento de sua prisão, impede a Pedro de utilizar sua espada para defender-lhe contra os soldados.
    João Gabriel proibiu seu discípulo Thomas de usar a violência para defender-lhe contra os soldados que vieram prender-lhe.
  8. Jesus foi tratado como criminoso. “Saístes armados de espadas e porretes para prender-me, como seu eu fosse um malfeitor” (Mt 26, 55).
    João Gabriel foi tratado brutalmente quando foi preso, sendo acorrentado e golpeado como um bandido.
  9. Jesus foi levado de um tribunal para outro, diante de Caifás, Anás, Herodes e Pilatos.
    João Gabriel, também é levado de tribunal em tribunal: tribunal militar, tribunal dos crimes, na Subprefeitura, na Prefeitura e na capital da Província diante do governador e vice-rei.
  10. Jesus foi ajudado por Cirineu no caminho do calvário (Mc 15,21).
    João Gabriel, exausto, inspira compaixão de Lieou Kiou Lin, que carregou um palanquim e o acompanhou inclusive os dois dias que dura a viagem após a prisão.
  11. Jesus foi maltratado, injuriado, insultado, cuspido e açoitado.
    João Gabriel foi cruelmente golpeado com correias de bambu e couro, cuspido na cara e açoitado.
  12. Jesus foi abandonado pelos seus, exceto João e as piedosas mulheres.
    João Gabriel sofreu ao ver dois terços dos cristãos, presos e encarcerados com ele, abandonarem sua fé (apostasia). Somente alguns permaneceram fiéis.
  13. Jesus foi negado por Pedro.
    João Gabriel sofreu ao ver seu amigo catequista Li, que era próximo dos missionários, negando tanto sua fé como a seu mestre. Vencido pelos tormentos, inclusive chegou a insultá-lo e golpeá-lo.
  14. Jesus foi vestido com um manto vermelho na casa de Herodes e enviado a Pilatos como um Rei de comédia.
    João Gabriel, por ordem do Mandarim, foi revestido com ornamentos sacerdotais, e entregue deste modo para as provocações do povo.
  15. Jesus fica em silêncio diante de Pilatos.
    João Gabriel, depois de ter confessado sua fé, aguenta os flagelos em silêncio e com paciência heroica.
  16. Jesus, no alto da cruz, reza pelos seus carrascos.
    João Gabriel, em meio a uma sessão de tortura, se põe de joelhos para agradecer a Deus lhe permitir sofrer por seu nome e também reza pelos seus carrascos.
  17. Jesus absolve o bom ladrão dizendo: “Hoje estarás comigo no paraíso”.
    João Gabriel, em meio ao tribunal, dá muitas vezes a absolvição aos apóstatas arrependidos.
  18. Jesus ouviu os insultos dos fariseus e das pessoas que diziam: “Se és o Filho de Deus, desça agora da cruz e salve-se a ti mesmo”.
    João Gabriel ouviu esta blasfêmia da boca do vice-rei: “Agora que sofres, peça a teu Deus que te livre de minhas mãos”.
  19. No calvário deram a Jesus fel e vinagre para beber.
    João Gabriel, para eliminar um encantamento, que segundo o juiz, lhe tornara insensível à dor, foi condenado a beber o sangue quente de um cachorro com a garganta cortada.
  20. Os soldados, para tirar sarro de Jesus, fizeram uma coroa de espinhos e a puseram sobre sua cabeça.
    João Gabriel sofreu um castigo semelhante: gravam em sua testa, caracteres chinos, com um ponteiro aquecido no fogo, as seguintes palavras: “Propagador de uma seita abominável”.
  21. Jesus, em vez do gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz sem medo (Heb 12,2).
    João Gabriel caminha para o sofrimento com alegria e seu rosto fica todo radiante.
  22. Jesus sobe ao calvário com dois bandidos.
    João Gabriel foi conduzido à morte com muitos criminosos que foram executados ao mesmo tempo.
  23. Jesus, do alto da cruz, grita: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 25,46).
    João Gabriel, quando chega ao lugar da execução, se ajoelha, levanta os olhos aos céus e entrega sua alma a Deus.
  24. Jesus, na cruz, viu os carrascos repartindo suas vestes.
    João Gabriel quando estava sendo amarrado na cruz, os carrascos escolhiam a roupa que repartiriam depois de sua morte, mas seus discípulos resgataram suas roupas bem como os instrumentos de martírio para conservá-los como relíquias.
  25. “Jesus padeceu fora das portas” (Heb 13,12).
    João Gabriel foi executado fora da vila, no lugar das execuções.
  26. Jesus foi pregado na cruz.
    João Gabriel foi amarrado com cordas numa forca em forma de cruz e estrangulado.
  27. Jesus morreu numa sexta-feira as três da tarde.
    João Gabriel morreu, também ele, numa tarde de sexta-feira.
  28. Jesus recebeu um golpe de lança na costela direita por um soldado romano para assegurar-se que estava verdadeiramente morto.
    João Gabriel também recebeu o golpe de misericórdia: um soldado lhe deu um violento chute no ventre.
  29. Jesus suscita a compaixão das mulheres piedosas, a profissão de fé do centurião e o remorso do povo.
    João Gabriel suscita sentimentos parecidos nos pagãos, que corriam na multidão murmurando e protestando contra a sentença do tribunal.
  30. Jesus aparece a Pedro, Madalena e aos onze discípulos.
    João Gabriel apareceu para um pagão letrado, seu bom Cirineu, que estava enfermo e ao final da vida se converteu. Apareceu para outras pessoas dignas de fé. Uma grande cruz apareceu no céu em sua morte e foi vista por uma multidão de pessoas, inclusive de muito longe.
  31. Jesus ao pé da cruz, viu sua mãe cheia de sublime resignação.
    A Mãe de João Gabriel, ao receber a notícia de sua morte, disse: Por que deveria eu hesitar em oferecer a Deus o sacrifício do meu filho; a Virgem Santa não hesitou em oferecer o sacrifício do seu filho para nossa salvação.
  32. Os responsáveis da morte de Jesus tiveram um triste fim: Herodes e Pilatos foram depostos e morreram miseravelmente num exílio. Judas enforcou-se. Caifás foi destituído depois de um ano.
    Os responsáveis pela morte de João Gabriel terminaram na miséria; O Mandarim que fez a prisão foi deposto e enforcou-se; o vice-rei tão cruel foi denunciado ao Imperador, despojado de seus bens e enviado ao exílio. Outros foram condenados ao exílio ou morreram prematuramente.

André Sylvestre, CM
Tradução: Joelson Cesar Sotem, CM.

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