Na Liturgia Eucarística da santa missa, ao se falar das virtudes de Cristo, o missal enfatiza que Jesus “anunciou aos Pobres a salvação, aos oprimidos a liberdade e aos tristes a alegria”. Esta é uma das passagens mais bonitas da celebração, ocasião em que refletimos sobre a missão de Nosso Senhor aqui na Terra e, ao mesmo tempo, nosso papel como católicos.
Se somos imitadores de Cristo (“cristãos”), também precisamos fazer o mesmo: levar a salvação, a liberdade e a alegria, com entusiasmo, a quem precisa. E se somos vicentinos, aí esse desafio torna-se mais urgente e revigorante, pois lidar com os Pobres, procurando entender suas necessidades, é o papel precípuo dos confrades e consócias, sem julgá-los em nenhuma hipótese.
Jesus anuncia o reino de Deus aos Pobres incondicionalmente e os declara bem-aventurados, porque Ele já lhes pertence. Portanto, quem anuncia o Evangelho aos Pobres faz parte dos Pobres e ele próprio se torna pobre na comunhão deles. Somente na comunhão dos Pobres abre-se o Reino de Deus para todos.
O Catecismo da Igreja Católica, em seu item 489, destaca que Deus escolheu os considerados “fracos” ou “incapazes” para mostrar a sua fidelidade: Ana (mãe de Samuel), Débora, Rute, Judite, Ester e muitas outras mulheres. Maria “é a primeira entre os humildes e Pobres do Senhor”, que confiadamente esperaram e receberam a salvação de Deus. Com ela, enfim, passada a longa espera da promessa do Antigo Testamento, cumprem-se os tempos.
Anunciar aos Pobres a salvação, Jesus não estava apenas se referindo aos “materialmente” classificados como Pobres, mas a todos os fiéis que fossem “Pobres em espírito”: “Bem-aventurados os Pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mateus 5, 3). Jesus quis dizer que os humildes e os não orgulhosos seriam os alvos da bem-aventurança. Deus quer pessoas com “espírito rico” de amor e “espírito pobre” de orgulho.
Os “Pobres de espírito” são os que não têm orgulho, e os ricos espiritualmente são os que acumulam tesouros nos Céus, onde a traça não os rói e os ladrões não os alcançam. Os “Pobres de Espírito” sãos os humildes, que nunca mostram o que sabem, e nunca dizem o que têm; a modéstia é o seu distintivo! É por isso que a humildade se tornou “bilhete de entrada” no Reino dos Céus. Sem a humildade, nenhuma virtude se manteria. A humildade é a propulsora de todas as grandes ações e atos de generosidade. Bem-aventurados os humildes, pois deles é o Reino dos Céus!
Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seu silêncio, seus milagres, seus gestos de compaixão, sua oração, seu amor incondicional pelo homem, sua predileção pelos pequenos e pelos Pobres, sua cruz redentora e sua ressurreição. Tudo – diz o Catecismo – é plena atuação da sua palavra e cumprimento integral da Revelação.
Portanto, queridos vicentinos, anunciar a salvação aos Pobres é nossa missão. Cada Conferência Vicentina poderia elaborar uma espécie de “plano de evangelização” dos assistidos, no qual as ações de Caridade fossem focadas não só na entrega de bens materiais e gêneros alimentícios, mas na difusão da Palavra de Deus e na busca de nossa santificação pessoal. Só assim seremos igualmente Pobres com os nossos Pobres socorridos. Meditemos.
Renato Lima de Oliveira
16º Presidente Geral da Sociedade de São Vicente de Paulo
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