A revista Boletim Brasileiro, no ano passado, publicou uma reportagem especial sobre consócias que superaram o câncer. A matéria na íntegra é republicada hoje, penúltimo dia de outubro, para conscientizar as mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce, bem como ser um estímulo para aquelas que estão passando pela doença.
“O apoio e o carinho dos vicentinos foram e são fundamentais no processo do meu tratamento” – consócia Vera Lúcia dos Santos e Santos
Quem vê a consócia Vera Lúcia dos Santos e Santos em atividades vicentinas não imagina que ela é uma paciente em tratamento contra o câncer. Ela permanece ativa em encontros, atuou de forma incansável na produção dos DVD’s de formação da Ecafo, além de contribuir muito com a instituição por meio de palestras e artigos que escreve com desenvoltura e permeados pela espiritualidade vicentina. “Nós não podemos deixar os obstáculos que aparecem em nossa vida castrarem nossos objetivos, sonhos e a missão que nos é dada por Deus”, motiva.
A consócia fez tratamento desde 2015, em Barretos (SP).
Inicialmente, ela foi diagnosticada com câncer no colorretal (região do intestino). Depois, ele acometeu o fígado. A professora de História e Geografia, casada e mãe de duas filhas, conta que quando descobriu a doença, pensou que fosse morrer. “Fui criada numa cultura em que ‘ter câncer é sentença de morte’. As pessoas mais antigas se referiam ao câncer como ‘doença ruim’. Fiquei três dias sem saber o que fazer, muito deprimida e chorando. Em nenhum momento culpei Deus. Apenas perguntava: por que eu? Por que comigo?”, relembra.
Passado o impacto inicial, a consócia Vera começou a recordar o sofrimento diário das famílias carentes que assistia por meio dos trabalhos na Conferência Beata Nhá Chica, na área do Conselho Metropolitano de Pouso Alegre (MG), e não se permitiu mais lamentar diante desta primeira dificuldade da vida dela. “Passei a oferecer e ofereço meu sofrimento a Deus como intercessão a essas famílias e aos demais pacientes com câncer. É doloroso ver o sofrimento das pessoas de todos os cantos do Brasil, dos sertões, das cidades, pessoas simples e pobres. Já ouvi tantas histórias comoventes de dor e sofrimento, mas muita superação, fé, cura e alegria”.
ASSISTÊNCIA VICENTINA
Acostumada a ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social, a consócia Vera passou a viver o ‘outro lado da moeda’ desde que adoeceu. Os vicentinos a assistiram de forma integral: por meio de orações e mensagens de motivação. “O apoio e o carinho dos vicentinos foram e são fundamentais no processo do meu tratamento. É emocionante saber e sentir o amor que tiveram e têm por mim nos momentos mais difíceis de minha vida”.
A SSVP também disponibilizou uma casa para que ela pudesse se hospedar durante o tratamento em Barretos. Em retribuição, a coordenadora da Ecafo participou de uma Conferência local, a Santo Antônio de Pádua. “Os vicentinos de Barretos me acolheram como membro de suas famílias. Eles me ajudam em tudo o que preciso. Estão sempre presentes. Me levam e buscam no Hospital. Visitam-me, me animam, estão sempre presentes me acompanhando em tudo”.
APRENDIZADO
Vera ainda tem pela frente mais 5 anos de tratamento. Ela já fez duas cirurgias, e enfrentou mais de 40 sessões de quimioterapia e 28 de radioterapia. Apesar das dificuldades, ela consegue ver que o processo da doença foi importante para o crescimento dela como ser humano. “O câncer me tornou uma pessoa melhor. Ensinou-me que a moléstia cancerígena é apenas uma doença como tantas doenças e que pode ter cura. Ensinou-me a lutar. Ensinou-me a ser forte, a ter mais fé. Ensinou-me que é possível vencer. Ensinou-me, sobretudo, a importância da presença, do apoio e do carinho da família e dos amigos”.
“Diante da minha dor, lembrava sempre que tinha muita gente sofrendo lá fora, a exemplo dos nossos assistidos” – consócia Aline Alves de Oliveira
A consócia Aline Alves de Oliveira (30) estava no auge da juventude e formação acadêmica quando foi diagnosticada com leucemia, no ano atrasado. Tinha concluído um Doutorado em Química pela Universidade de São Paulo (USP), campus São Carlos (SP), e feito um estágio em San Diego, nos Estados Unidos.
Diferente da maioria dos pacientes, que ao descobrirem a doença se revoltam, Aline fez o caminho inverso: aceitou o câncer. “Interessante é que há tempos, eu tinha pensamentos de que um dia teria Leucemia. Hoje, sei que Deus estava me preparando o tempo todo. Quando a doença chegou, fiquei muito tranquila. Entendi tudo isso como uma missão de Deus, algo eu precisava aprender e ensinar com tudo isso. Por isso, agradeço pela doença, ela foi algo transformador”.
Quando esteve muito mal, inclusive internada na UTI, Aline também se recordava dos Pobres que assistia nas Conferências que participava. “O privilégio de ser vicentino nos faz ser mais fortes em tudo. E enfrentar uma doença se torna algo muito mais leve. Estamos socorrendo pessoas que estão em situações de muito sofrimento e angústia. Sabemos bem como é passar por tribulações. Além de tudo isso, a crença em alguma religião é fundamental para tratar doenças como o câncer e a fé permite que milagres aconteçam a todo instante. Eu sou abençoada por poder testemunhar milagres como o meu”.
A BÊNÇÃO DOS POBRES
Aline é mineira de Bom Sucesso, onde participava da Conferência Santo Antônio de Pádua. Mudou-se para São Carlos para estudar, ingressando na Conferência Nossa Senhora Consoladora. Foi nesta segunda Conferência que ela vivenciou um episódio bonito. Uma das assistidas pediu para ver a consócia apenas quando ela estivesse curada. Ao receber o diagnóstico da cura, no início do ano passado, Aline foi visitar a assistida. “Essa senhora não se cansou de pedir a Deus para interceder por mim. E mais uma vez, Ele ouviu”.
APOIO
Aline é muito grata aos confrades e consócias por terem rezado pela recuperação dela e, inclusive, uma família vicentina de São Carlos a apoiou muito durante o tratamento. A consócia acredita que a recuperação tenha acontecido por meio das correntes de oração, em que era colocada sob a intercessão de São Vicente, Ozanam e Nossa Senhora das Graças.
Todo apoio foi indispensável para que ela se sentisse mais forte durante a Quimioterapia ou quando perdeu o cabelo por causa do tratamento. “Diante de tudo, é como se diz: ‘o cabelo é o menos importante’”, relata.
Aline já recebeu alta. Agora, vencida a doença, avalia o que aprendeu com ela. “A Leucemia me ensinou que a vida vale ouro. Cada dia que acordamos é um presente de Deus e precisamos agradecer. Hoje, eu agradeço durante todo o dia por estar viva e poder testemunhar o milagre Dele na minha vida. Além disso, aprendi a aproveitar os momentos com as pessoas, pois não sabemos quando será a hora de cada um. Tudo passa muito rápido e a vida é imprevisível”.
Fonte: revista Boletim Brasileiro
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