A inserção internacional da SSVP: os desafios da atuação perante as Nações Unidas

por | ago 2, 2024 | Notícias | 0 Comentários

A Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), desde sua fundação em 1833 pelo bem-aventurado Antônio-Frederico Ozanam e seus amigos, sempre buscou atuar de forma efetiva e altruísta na luta contra as pobrezas (moral, espiritual e material) e a exclusão social.

No decorrer dos anos, essa missão expandiu-se para além das fronteiras da França, alcançando todos os continentes e inserindo-se no cenário internacional como uma das mais importantes organizações de caridade do mundo. Hoje, a SSVP já está presente em 155 nações. Entretanto, essa ampliação traz consigo desafios significativos, especialmente no que tange à atuação perante organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU).

Desde 2011, a Sociedade de São Vicente de Paulo, por meio do Conselho Geral Internacional, faz parte do sistema das Nações Unidas em várias frentes, iniciativas e organizações. Somos membros do Conselho Econômico e Social – ECOSOC (Nova Iorque), atuamos junto à UNESCO (Paris) e ao Conselho de Direitos Humanos (Genebra), entre outras participações. Juntamente com a Família Vicentina, a SSVP faz parte da chamada COALIZÃO VICENTINA, em um esforço comum em prol dos mesmos objetivos (moradores de rua, famílias e refugiados, por exemplo). Nosso foco: defesa dos pobres, dentro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 20230.

A inserção da SSVP na ONU representa um passo crucial para a amplificação de sua voz e influência global. Estar presente em um fórum de tamanha importância possibilita à SSVP levar adiante sua missão de caridade em um nível mais elevado, participando ativamente das discussões e decisões que afetam diretamente os mais necessitados. No entanto, essa atuação exige uma adaptação a novos contextos e a superação de diversos novos obstáculos, que são os desafios que a humanidade enfrenta.

Um dos principais desafios enfrentados pela SSVP na ONU é a necessidade de se fazer ouvir em um ambiente repleto de organizações com diferentes agendas e interesses. A complexidade das questões tratadas na ONU requer da SSVP não apenas uma compreensão profunda das problemáticas globais, mas também a capacidade de dialogar e colaborar com outros atores, incluindo Estados, organizações não governamentais e entidades do setor privado.

Outro desafio relevante é a manutenção da identidade vicentina em um contexto de política internacional. A SSVP precisa assegurar que sua essência de caridade cristã e seu compromisso com os mais pobres não se percam em meio às negociações e debates frequentemente marcados por interesses divergentes, pragmáticos e, às vezes, contraditórios. Isso demanda uma clareza de propósito e uma firmeza de valores que possam orientar suas ações e posicionamentos.

Além disso, a SSVP precisa de uma estrutura organizacional adequada para atuar eficazmente na ONU. Isso inclui a formação de delegados (baseados em Nova Iorque, Paris e Genebra) capacitados para interagir com diplomatas, embaixadores, lobistas e outros profissionais do campo internacional, bem como a elaboração de estratégias que permitam à SSVP maximizar sua influência nas decisões e políticas globais. A preparação e o contínuo desenvolvimento desses delegados são cruciais para que a organização possa desempenhar um papel significativo e duradouro.

A presença da SSVP na ONU também implica em um esforço constante de defesa dos pobres (chamada de “advocacy”) e conscientização. É preciso garantir que as causas defendidas pela SSVP, como a erradicação da pobreza e a promoção da justiça social, sejam constantemente destacadas nas agendas internacionais. Defendemos a cultura da paz, a cultura da empatia e a cultura da solidariedade. Esse trabalho de “advocacy” deve ser realizado de forma contínua e estratégica, envolvendo ações diretas junto aos tomadores de decisão e também campanhas de sensibilização.

A inserção internacional da SSVP e sua atuação perante a ONU, portanto, envolvem um conjunto de desafios que exigem preparação, adaptação, liderança e firmeza de propósitos. No entanto, essas dificuldades são também oportunidades para que a Sociedade de São Vicente de Paulo amplie seu impacto e reforce seu compromisso com os mais vulneráveis. Ao enfrentar esses desafios com determinação e fidelidade aos seus princípios, a SSVP continua a honrar sua missão e a contribuir para a construção de um mundo mais justo e fraterno.

Renato Lima de Oliveira
Comissário-geral junto às Nações Unidas

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