Durante o Tempo Quaresmal, a Santa Igreja convida os fiéis a viver, mais intensamente, alguns aspectos que elevam o espírito, ajudam no caminho da conversão e reconectam as pessoas a Deus: a oração, o jejum, a penitência e a esmola (caridade). Para os membros da Sociedade de São Vicente de Paulo, tanto quanto para os diversos ramos da Família Vicentina, a prática dessas recomendações já é algo frequente e regular, desejável durante o ano todo.
A oração é a tônica do cristão e do vicentino, pois sem a oração a atividade caritativa torna-se mero ativismo social ou assistencialismo. Sem a oração, o fiel torna-se vazio espiritualmente, e não poderá jamais ser fermento na massa (Lucas 13, 21) nem sal ou luz do mundo (Mateus 5, 13-14). A oração renova o espírito, alivia o sofrimento e aproxima as pessoas de Deus. Nestes tempos de pandemia, o convite à oração torna-se mais presente ainda, especialmente junto àqueles que perderam amigos e entes queridos. Recorrer a Deus pela oração é a maneira mais forte de se alcançar a conversão (Mateus 7, 7-8).
Já a penitência tem como finalidade a reconciliação com Deus e com os irmãos, ao receber o perdão dos pecados. Como estabelecido no 2º Mandamento da Igreja, o sacramento da penitência (confissão) deve ocorrer pelo menos uma vez ao ano, se possível durante a Quaresma. Um bom exame de consciência ajuda no arrependimento e na busca de confissão sacramental realmente libertadora. Estar em sintonia com Deus, pela penitência, é disposição fundamental para aprimorar as virtudes vicentinas (Judite 8, 14). Um vicentino que não se confessa vai, lentamente, esfriando-se na fé e afastando-se do que é sagrado.
O jejum é outra prática que, ao promover a mortificação (uma das virtudes ensinadas por Vicente de Paulo), ressalta a pequenez de todos os cristãos perante a grandiosidade divina. O jejum, que muitos já fazem às sextas-feiras dentro da tradição cristã católica, é uma forma de buscar mais vividamente a santidade, por meio da humildade e do desapego dos bens materiais. O jejum também é uma “experiência de pobreza”, como nos ensina o papa Francisco na mensagem quaresmal deste ano, pois “quem jejua faz-se pobre com os pobres”. Além do mais, o jejum reforça o caráter solidário da Quaresma (Isaías 58, 3).
Por fim, a prática da esmola (caridade) é a marca registrada de todo vicentino. Ao acolher aos que sofrem algum tipo de pobreza ou vulnerabilidade, o vicentino trata as pessoas com igualdade e respeito, ajudando-as a superarem as dificuldades transitórias de suas vidas, não somente na parte material ou econômica, mas, sobretudo, nos aspectos morais e espirituais (1ª Coríntios 13, 13). Como diz o papa, “a caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos, gerando o vínculo da partilha e da comunhão” (Mensagem da Quaresma 2021).
Por conta da crise mundial provocada pela pandemia da Covid-19, este ano a Quaresma será vivenciada com certas adaptações, contudo, sem jamais esquecer seus princípios basilares. É preciso ser criativo para viver a Quaresma diante das restrições sanitárias em vigor. O próprio papa ressalta: “Neste contexto de grande incerteza quanto ao futuro, ofereçamos, junto com a nossa obra de caridade, uma palavra de confiança e façamos sentir ao outro que Deus o ama como um filho” (Mensagem da Quaresma 2021).
Diante de todos os argumentos acima descritos, resta claro afirmar que os vicentinos vivem uma “eterna” Quaresma. Essas recomendações são elementos indissociáveis do modus operandi vicentino, pois são buscados incessantemente por todos aqueles que fazem parte da SSVP e da Família Vicentina. Tal postura deve ser exercida não somente perante os pobres, mas, sobretudo, entre nós, irmãos de caminhada rumo ao céu. Nosso testemunho de vida e de busca pela santidade servirá de exemplo para muitos ao nosso redor. Uma excelente Quaresma a todos!
Renato Lima de Oliveira,
16º Presidente-geral da Sociedade de São Vicente de Paulo.
👏👏👏excelente reflexão, oportuna catequese por certo inspirada na luz do Espirito Santo. 🙏Fica conosco Senhor🙏