A trajetória cristã de Frederico Ozanam encontrou marcos na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Foi lá, por exemplo, que, em 22 de agosto de 1997, em plena Jornada Mundial da Juventude, o Papa São João Paulo II, beatificou Ozanam, o mais conhecido fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP). Uma placa colocada na última coluna central a esquerda antes de chegar ao altar registra a ocasião.
A ação institucional mais importante de Ozanam na Catedral ocorreu em 1835. Naquele ano, depois de muito insistir e apresentar um abaixo-assinado com 200 assinaturas de estudantes , o confrade Ozanam conseguiu autorização do arcebispo de Paris, Monsenhor Quélen, e fundou em Notre-Dame as chamadas Conferências de Quaresma. Pela primeira vez o maior templo da cidade seria aberto para que “a juventude fosse iniciada nas provas fundamentais do cristianismo e fosse atraída para a luz”. O pregador era o padre e amigo Henri Lacordaire. As Conferências eram vistas como “um tratado de dogma e moral erigidos contra a filosofia e os erros do século XIX”. Após as Conferências, até 6 mil pessoas comungavam . Até hoje essas Conferências existem.
Um estudo mais aprofundado da história de Ozanam revela detalhes interessantes relacionados à Catedral. Ele assistia às Santas Missas de Páscoa lá. Heri Perreyve, amigo pessoal, conta que depois da comunhão geral, Ozanam se despedia rapidamente dos conhecidos. Dizia que tinha que preparar aulas, pois era professor, mas na verdade, diz o amigo, “ele ia comprar pão e levar aos seus pobres, fazendo assim sua ação de graças”.
Em 1842, Ozanam ajuda a organizar na Catedral retiros preparatórios para a Páscoa, coordenados pelo Padre de Ravignan. Em um dia, ele se alegra ao ver o resultado do exercício: na fila da comunhão na Catedral havia nobres e ricos cobertos de enfeites ao lado de pobres em roupas de operários, militares, alunos das escolas normais e da politécnica, crianças e sobretudo estudantes em grande número. A comunhão durou uma hora. Todos saíram da Catedral tocados, mas para Ozanam o momento ainda não havia acabado: “ele foi a casa dos pobres de sua Conferência retribuir a visita que Nosso Senhor o havia feito na Eucaristia”.
Em 27 de abril de 1913, por ocasião da Missa do centenário de nascimento de Frederico Ozanam, o Papa Pio X enviou para a Catedral, local do evento, o cardeal Vincent Vanuttelli, portador de uma mensagem: “por seus escritos e por seus atos, ele (Ozanam) colocou a fé na luz e se posicionou entre os mais extraordinários campeões da ciência cristã”.
Cem anos depois, em 21 de abril de 2013, a Divina Providência fez-me testemunhar pessoalmente os reluzentes raios de Ozanam na mesma Catedral de Notre-Dame. Uma Missa solene no ainda maior templo de Paris, celebrava os 200 anos de nascimento de Frederico Ozanam. Lembro como se fosse hoje. A nave repleta de membros da SSVP de dezenas de países, rezando pelo seu fundador mais eminente. Era o ponto alto de uma semana de comemorações pelo bicentenário. Por obra de Deus e da Providência, a Catedral foi escolhida, mais uma vez, para ser o local de homenagem a um dos maiores apologetas (defensores da fé católica) que os últimos três séculos conheceram.
Infelizmente, em 15 de abril de 2019, a estrutura física da Catedral de Notre-Dame foi consumida por um incêndio. Ao todo, 856 anos de história arquitetônica foram parcialmente perdidos. Entretanto, o exemplo de fé e ação de cristãos que passaram, ao longo dos séculos pelo local, como o de Frederico Ozanam, é, ao lado da Providência, o maior seguro que o Cristianismo pode ter para preservar suas tradições, e uma das maiores fontes de inspiração da qual ele pode dispor para reconstruir a esperança de uma humanidade sedenta pela paz, pela justiça, pelo amor e, ao fim e ao cabo, pelo próprio Deus.
Que o beato Frederico Ozanam, no Reino, interceda por todos. Que possamos nós fazer parte da chama que não destrói, mas que abrasa, une e conforta todos os corações. Amém.
*Por Thiago Tibúrcio
Presidente do Conselho Metropolitano de Brasília da SSVP.
Foi um desastre este incêndio mas, o que me preocupa em 1° é as farsas deste mundo. Para dar empregos aos carenciados não há é não há alternativas de empregabilidade. As pessoas em situação de miséria continuam a mendigar pelas rua, dormir, sem casa ou degradadas. Ontem como hoje existe edifícios desocupados onde bem podiam albergar estas gentes desprotegidas pela sorte. A sua sorte é ter de viver na rua, porque há quem diga (com responsabilidades sociais e cristãs) que não há dinheiro…
Que falcidade.