O Santo Padre Leão XIV acaba de nos oferecer a belíssima Exortação Apostólica Dilexi te (“Eu te amei”), documento de 43 páginas profundamente inspirado na herança espiritual do Papa Francisco e inteiramente voltado ao amor pelos pobres. Trata-se de um texto que resgata o coração do Evangelho e recorda à Igreja sua missão essencial: amar, servir e defender os mais pequeninos, onde Cristo se faz presente de modo privilegiado.
O Papa parte da palavra do Apocalipse — “Tens pouca força, mas Eu te amei” — para dirigir-se a todos os que sofrem exclusão, miséria ou abandono. Seu apelo é claro: a Igreja deve estar com os pobres e ser, ela mesma, pobre e servidora. O cuidado pelos necessitados, afirma o Papa, não é um tema social ou político, mas o próprio modo de amar de Deus. Por isso, cada batizado é chamado a reconhecer no rosto do pobre o rosto de Cristo.
A Dilexi te percorre a história da salvação mostrando como Deus sempre escutou o clamor dos oprimidos — desde o Êxodo até a vida de Jesus, o Messias pobre. Cristo, que nasceu sem abrigo, viveu entre os simples e morreu fora dos muros da cidade, é o modelo de toda a caridade cristã. Segui-lo é participar de sua pobreza redentora e transformar o amor em gestos concretos de partilha.
O Papa Leão XIV denuncia também as novas formas de pobreza, que crescem mesmo em sociedades abastadas: a solidão, a exclusão, a desigualdade e o descarte. Lembra que a indiferença é um pecado contra o coração de Deus e que a verdadeira fé exige compromisso ativo. Relembrando a advertência de São Tiago — “a fé sem obras é morta” —, o Papa insiste que a Igreja deve ser sinal vivo de misericórdia e justiça.
Num dos capítulos mais belos, o Pontífice recorda o exemplo luminoso de tantos santos que fizeram dos pobres o centro de sua vida. Entre eles, destaca São Vicente de Paulo, “pai dos pobres e apóstolo da caridade”, cuja obra continua viva através das Filhas da Caridade e de toda a Família Vicentina. O texto menciona com gratidão o serviço das Irmãs que, seguindo o carisma vicentino, “tornaram-se presença materna e discreta em hospitais, asilos e casas de saúde”, cuidando dos enfermos “com o mesmo carinho de uma mãe para com o filho doente”. O Papa reconhece nelas um testemunho luminoso de que a fé se traduz em amor concreto e serviço humilde.
A exortação convida, enfim, cada cristão e cada comunidade a redescobrir a alegria de servir. A Igreja — diz o Papa — só será verdadeiramente de Cristo se for também Igreja das Bem-aventuranças, pobre com os pobres e misericordiosa como o Pai. É um chamado à conversão pastoral e pessoal, que ecoa com força no coração vicentino: “não basta amar a Deus, é preciso fazer com que o pobre o ame também”.
Para nós, membros da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) e dos diversos ramos da Família Vicentina, Dilexi te é um sopro do Espírito. Ela confirma que o carisma de São Vicente continua atual e necessário. Em um mundo ferido pela desigualdade, somos convidados a renovar o compromisso com os mais frágeis, não por filantropia, mas por fé. Como repetia o santo de Châtillon: “Os pobres são nossos senhores e mestres”.
Que esta exortação apostólica reacenda em todos nós o desejo de servir com ternura, humildade e alegria. Que aprendamos, como o Papa nos recorda, a contemplar o Cristo que continua a dizer a cada pobre: “Eu te amei”. E que, respondendo a esse amor, possamos ser instrumentos da Providência de Deus, levando consolo, pão e esperança aos que mais precisam.
O texto completo está aqui: https://www.vatican.va/content/leo-xiv/pt/apost_exhortations/documents/20251004-dilexi-te.html.
Boa leitura em sua Conferência Vicentina e no seu ramo vicentino.
Confrade Renato Lima de Oliveira,
foi o 16º Presidente-geral Internacional da SSVP entre 2016 e 2023. Atualmente, presidente do Conselho Central Divino Espírito Santo, de Brasília-DF.








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