Visita à Família Vicentina da Nigéria

por | out 3, 2025 | Notícias | 0 Comentários

Nigéria: Um tempo de graça e celebração do carisma vicentino e do compromisso com a boa governação no serviço aos pobres

A minha recente visita à Nigéria foi marcada por uma agenda intensa e rica, centrada principalmente na celebração do 400.º aniversário da Congregação da Missão. Neste contexto de profunda alegria e renovação, tive a oportunidade de me encontrar com a liderança nacional da Família Vicentina, bem como de participar no retiro anual dos missionários, onde partilhámos momentos de oração, discernimento e fraternidade. Um dos momentos mais significativos foi a celebração da ordenação de cinco novos missionários vicentinos, sinal esperançoso do dinamismo vocacional que a Família Vicentina vive neste país.

Celebração do Jubileu da CM com a Família Vicentina da Nigéria.

Durante estes dias, mantive vários diálogos pessoais com membros da Família Vicentina e com líderes da Sociedade de São Vicente de Paulo do Gana que vieram para as celebrações. Em todos esses encontros emergiram temas que também estiveram presentes nas minhas visitas a outros países, mas que aqui ressoaram com uma força particular. Um deles foi o da boa governação, tanto no âmbito civil e político como no eclesial.

A Nigéria —e muitas outras nações africanas— é um território de imensa riqueza humana, cultural, espiritual e natural. Contudo, persiste em muitas regiões uma situação de precariedade, abandono e exclusão. A pergunta que inevitavelmente surge é: como é possível que, tendo tanto, tantos vivam com tão pouco ou até sem nada? A resposta, repetida com clareza em múltiplos testemunhos, tem a ver com as formas de liderança em todos os níveis, mas sobretudo com a liderança política e militar. Daí surge a urgência de promover uma boa governação ao serviço do bem comum, da defesa da vida e do cuidado dos mais vulneráveis, também a partir da ação ministerial — incidência política e purificação da ação política.

Este tema não é exclusivo do continente africano, mas faz parte de um fenómeno global com profundas implicações. Contudo, em África adquire um matiz especial pelo seu impacto direto nos processos de desenvolvimento humano e social integral. Não é por acaso que a boa governação seja uma linha prioritária na agenda desenvolvida pelas nações africanas na ONU: África 2063. Nessa agenda destaca-se a boa governação juntamente com a descolonização e o panafricanismo, para a construção de uma identidade continental e a possibilidade de assumir uma voz comum em questões centrais no diálogo com o resto do mundo.

Também na Igreja, o tema da boa governação toca com força a questão do uso transparente e evangélico dos bens, especialmente daqueles destinados aos mais pobres. Com a Família Vicentina da Nigéria falámos abertamente deste aspeto: a boa governação exige a luta em comum contra todas as formas de corrupção na gestão dos bens dos pobres.

Outro tema central nos nossos diálogos com a Congregação da Missão foi a crescente “paroquialização” do carisma vicentino na experiência da Congregação da Missão, como elemento que está a tomar quase por completo a identidade e ação pastoral em muitas das nossas províncias. Sublinhou-se a importância de fazer das nossas paróquias comunidades marcadas pelo carisma, através de dois grandes eixos: o serviço direto aos pobres e as ações de mudança sistémica e desenvolvimento integral; e o trabalho na implementação do modelo de uma Igreja sinodal na corresponsabilidade dos leigos, consagrados e ordenados, um assunto que não é estranho à Família Vicentina e que faz parte central da sua identidade e missão.

Neste sentido, sublinhou-se também a urgência de avançar nos processos de “desclericalização” e “despatriarcalização” das nossas estruturas eclesiais dentro da Família Vicentina. A Nigéria, como muitas outras regiões do mundo, enfrenta este desafio com crescente consciência. A Igreja é chamada a ser sinal de comunhão, participação e missão, a partir de uma experiência verdadeiramente sinodal, que escute todas as vozes, especialmente as daqueles que historicamente foram silenciados: mulheres, jovens, pobres, etc.

Finalmente, uma das reflexões mais profundas que surgiu durante esta visita foi a necessidade de uma encarnação e reinterpretação do carisma vicentino no contexto africano. Esta não é uma tarefa opcional nem secundária: é essencial para que o carisma continue a ser uma fonte de vida nas novas realidades. Foi muito bem acolhido o convite para que África —e nela, a Nigéria— encontre e expresse a sua própria voz, com confiança, naturalidade e fidelidade criativa ao espírito de São Vicente de Paulo.

Saí da Nigéria com o coração cheio de gratidão pela vitalidade da Família Vicentina, na qual existem várias ramificações locais; pela generosidade de tantos servidores do carisma; e pela esperança que brota de uma Igreja que, a partir dos seus desafios, se sabe chamada a renovar-se continuamente. Continuemos a caminhar juntos, ao serviço dos mais pobres, com audácia, humildade e amor encarnado. Obrigado, FAMVIN da Nigéria, pela vossa acolhida e hospitalidade!

P. Memo Campuzano, CM

 

Encerramento do Retiro dos Missionários Vicentinos, Província da Nigéria

 

Encerramento da Eucaristia do Jubileu da CM com membros da AIC, o Visitador e o Bispo local. 

 

Membros da Sociedade de São Vicente de Paulo

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