A promoção dos assistidos é também material, mas sobretudo espiritual

por | maio 15, 2025 | Formação, Reflexões, Sociedade de São Vicente de Paulo | 0 Comentários

A missão da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) é ampla, profunda e repleta de amor cristão. Nosso carisma nos impele à promoção integral da pessoa humana, olhando o ser humano como um todo: corpo, mente e alma. Quando uma Conferência Vicentina ajuda uma família necessitada, ela vai muito além de entregar uma cesta de alimentos, comprar um remédio ou pagar uma conta de luz. O que ocorre ali é um gesto concreto de promoção humana, um passo para que aquela família reconquiste sua dignidade completa. Como nos ensina o Senhor: “Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber” (Mt 25, 35). Mas será que temos conseguido ir além da promoção material?

Percebe-se, no dia a dia, que muitas Conferências dão mais ênfase à assistência material, relegando a promoção espiritual para o segundo plano. A promoção espiritual é tão necessária quanto a material, sendo a nossa missão precípua como batizados e missionários. Não basta tirar a família da miséria econômica, se ela permanece na miséria espiritual. A alma também tem fome: fome de Deus, fome de sentido, fome de luz. Jesus alertou: “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4). Ao nos dedicarmos ao serviço dos pobres, devemos lembrar-nos de que a salvação eterna das almas também faz parte da missão vicentina, por meio da evangelização.

Nesse sentido, há muitos elementos que devem ser valorizados. Levar os sacramentos para dentro da vida das famílias assistidas é essencial. Será que nossas famílias estão batizando seus filhos? Estão casadas na Igreja? Estão participando da Eucaristia? Cabe ao vicentino, com sabedoria e delicadeza, abrir os caminhos de fé. Precisamos incentivar a participação na missa dominical, facilitar o acesso à catequese e ajudar na reinserção na vida eclesial, pois tudo isso é promoção espiritual. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Muitas pessoas vivem em solidão ou com problemas psicológicos e emocionais, o que demonstra que a assistência vicentina não está restrita meramente ao aspecto material.

A leitura da Palavra de Deus também deve ser propagada. Muitas famílias vivem angústias profundas que poderiam ser suavizadas pela escuta da Sagrada Escritura. É nossa tarefa sugerir leituras bíblicas edificantes, oferecer orações e estar disponíveis para uma escuta fraterna. Um trecho lido da Bíblia pode ser um bálsamo para quem sofre. “Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para os meus caminhos” (Salmo 119, 105). Não se trata de impor a nossa religião (proselitismo), mas de testemunhar a fé com humildade e amor, criando condições para que a graça de Deus toque os corações, assim como fazia São Vicente, Ozanam e os demais fundadores da SSVP.

Por fim, é importante que as Conferências, ao avaliarem regularmente a promoção de uma família, considerem sempre as duas dimensões: material e espiritual. Uma família que se sustenta financeiramente, mas está afastada da fé, ainda precisa continuar no rol de assistidos. Assim como uma família muito piedosa, mas em situação de extrema pobreza, também necessita do nosso apoio. O verdadeiro vicentino atua com equilíbrio, sempre atento a essas nuances. Que possamos seguir o exemplo de Cristo, que curava corpos e almas, e lembrar sempre que “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres” (Lc 4, 18). Que nosso serviço vicentino seja completo, com caridade, fé e esperança.

Confrade Renato Lima de Oliveira,
16º Presidente-geral da SSVP entre 2016 e 2023, e atualmente é presidente do Conselho Central Divino Espírito Santo, em Brasília, Brasil.

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