A Família Vicentina – composta por mais de 170 organizações leigas, congregações religiosas e ministérios, mais de 4 milhões de fiéis em todo o mundo, inspirados pela visão de São Vicente de Paulo – expressa sua profunda preocupação com as práticas de imigração adotadas por vários países em nosso mundo atual e insta os governos a adotarem políticas de imigração compassivas e humanas.
Em muitos casos, a prática atual prejudica a dignidade humana e contradiz nossa tradição católica e nosso carisma vicentino enraizado no amor e na justiça para com os mais vulneráveis. A Família Vicentina reconhece o direito das nações de controlar suas fronteiras, mas também enfatiza que essas ações devem ser realizadas com justiça, misericórdia e respeito pela vida humana.
Com base nos ensinamentos bíblicos que pedem hospitalidade para com os estrangeiros, os cristãos devem defender e apoiar os migrantes, refugiados e solicitantes de asilo. A Família Vicentina está comprometida em oferecer assistência pastoral, assistência social e jurídica e oportunidades educacionais aos migrantes, ao mesmo tempo em que promove sua integração nas comunidades locais. Ela também está comprometida em abordar as causas fundamentais da migração forçada, colaborando com parceiros internacionais e se engajando na defesa de direitos junto às Nações Unidas.
A Família Vicentina apela aos líderes mundiais para que priorizem políticas de imigração humanas, garantam proteção legal, parem com as deportações em massa e rejeitem a xenofobia. Também incentivamos as comunidades religiosas a oferecer refúgio e assistência prática aos migrantes e refugiados. De acordo com nossa missão vicentina, nós nos comprometemos a oferecer compaixão e solidariedade sem reservas àqueles que buscam refúgio e uma nova vida.
“Construindo um mundo onde a compaixão não conhece fronteiras”
Exortação da Família Vicentina sobre Políticas de Imigração
Introdução
A Família Vicentina – composta por mais de 170 organizações leigas, congregações religiosas e ministérios, mais de 4 milhões de fiéis em todo o mundo inspirados pela visão de São Vicente de Paulo – expressa sua união e solidariedade com nossos irmãos e irmãs imigrantes que buscam refúgio, oportunidade e dignidade em todos os cantos do mundo.
As recentes medidas anti-imigração promulgadas em diversas nações entristecem nossos corações como cristãos e seguidores de São Vicente de Paulo, que nos chamou para ver a face de Cristo nos pobres e marginalizados. Muitas nações europeias também estão endurecendo suas abordagens. Várias nações europeias implementaram ou propuseram novas medidas, como regras de asilo mais rígidas, aumento das deportações e maior segurança nas fronteiras.
Como a Europa enfrenta desafios demográficos, como o envelhecimento da população e a escassez de mão de obra, os governos precisam encontrar um equilíbrio delicado entre a segurança nacional, as necessidades econômicas e as responsabilidades humanitárias. Outras partes do planeta enfrentam um desafio semelhante ao conciliar as preocupações de segurança com a necessidade de trabalhadores qualificados, destacando a natureza global dessas pressões demográficas e migratórias.
Acolher o estrangeiro não é apenas um ideal político, mas um valor profundamente bíblico e espiritual que é um dos pilares de nossa fé. As escrituras nos chamam repetidamente a estender a hospitalidade ao estrangeiro e a tratá-lo com dignidade e compaixão. No Antigo Testamento, Deus ordena ao seu povo: “Amem o estrangeiro, pois vocês foram estrangeiros na terra do Egito” (Deuteronômio 10, 19). O próprio Jesus nos lembra disso no Evangelho de Mateus: “Eu era estrangeiro e vocês me acolheram” (Mateus 25, 35). Como cristãos, nossa fidelidade a esses ensinamentos exige que rejeitemos políticas e atitudes que desumanizem ou excluam migrantes, refugiados e solicitantes de asilo.
Preocupações crescentes: Um apelo global por justiça
Os desafios da migração afetam o mundo inteiro. As políticas de vários países negam a entrada de refugiados, criminalizam pessoas sem documentos e desmantelam os caminhos legais para a cidadania. Embora reconheçam o direito das nações de controlar suas fronteiras, essas ações contradizem diretamente os ensinamentos sociais católicos e o carisma vicentino de amor e serviço aos mais vulneráveis.
Medidas recentes em alguns países, como o fim da cidadania inata, a restrição do acesso ao asilo e o aumento de medidas coercitivas em espaços como igrejas e escolas, já causaram danos irreparáveis. Em outros países, barreiras severas nas fronteiras, práticas de deportação e detenções prolongadas se somam a essas violações da dignidade humana. Os Estados têm o direito de regulamentar a imigração, mas devem fazê-lo com justiça, misericórdia e respeito pela vida humana.
Uma resposta vicentina: compaixão sem fronteiras
O carisma vicentino sempre esteve enraizado na ação em favor dos necessitados. São Vicente de Paulo dedicou sua vida a servir os pobres, com ênfase no amor prático que atende às necessidades físicas e espirituais. Hoje, a Família Vicentina continua essa missão acompanhando os imigrantes e defendendo sistemas justos que honrem sua dignidade. Acreditamos que todo ser humano é criado à imagem de Deus e que as fronteiras nunca devem se tornar barreiras para a compaixão e a solidariedade.
O chamado para abraçar uma espiritualidade de portas abertas está profundamente alinhado com o coração do Evangelho. Essa perspectiva nos incita a estender a mão com compaixão, a não ter medo de nos envolvermos com os sofredores e os que sofrem, e a acolher os necessitados de coração e fronteiras abertos. Ele nos exorta a rejeitar o medo e a indiferença, enfatizando que a verdadeira segurança é encontrada no cultivo da confiança, da solidariedade e do cuidado mútuo em vez da exclusão ou do isolamento: “Todo estrangeiro que bate à nossa porta é uma oportunidade de encontrar Jesus Cristo, que se identifica com o estrangeiro acolhido ou rejeitado em todas as épocas da história (cf. Mt 25, 35,43). O Senhor confia ao amor materno da Igreja todo ser humano que é obrigado a deixar sua pátria em busca de um futuro melhor” (Papa Francisco, Mensagem de Sua Santidade o Papa Francisco para o 104º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 15 de agosto de 2017).
Compromisso com a defesa da dignidade e dos direitos dos migrantes e refugiados
Como membros da Família Vicentina, inspirados pelo carisma de São Vicente de Paulo e pelo chamado para servir àqueles que vivem na pobreza e na marginalização, nós nos comprometemos a:
- Fornecer apoio pastoral e social: Fornecer assistência espiritual, emocional e material aos migrantes e suas famílias, garantindo que eles possam experimentar dignidade e pertencimento em nossas comunidades e ministérios.
- Defender políticas justas e humanas: Trabalhar ativamente para a implementação de políticas de imigração justas que protejam a dignidade e os direitos de todos, com atenção especial aos grupos vulneráveis, como crianças e famílias.
- Promover a integração social: Desenvolver programas e iniciativas para ajudar os imigrantes e refugiados a estabelecer relacionamentos frutíferos e participar ativamente de suas comunidades locais.
- Assistência e suporte jurídico: trabalhar com profissionais da área jurídica e organizações comunitárias para oferecer aos imigrantes orientação e assistência em processos complexos de imigração.
- Educação continuada e ministério para imigrantes: Desenvolver serviços institucionais católicos para fornecer apoio educacional e pastoral contínuo, adaptado às necessidades das comunidades de imigrantes.
- Iniciativas educacionais e de treinamento: Para aumentar a conscientização da Família Vicentina e da sociedade em geral sobre as realidades enfrentadas pelos imigrantes, promovendo a solidariedade e combatendo estereótipos prejudiciais.
- Abordar as causas fundamentais da migração forçada: Colaborar com parceiros nacionais e internacionais para desenvolver políticas de cooperação que abordem as causas fundamentais da migração forçada. Como parte desse compromisso, continuaremos a promover a defesa dos direitos dos migrantes por meio do envolvimento de representantes de ONGs da Família Vicentina nas Nações Unidas.
- Defesa dos Direitos Humanos: Solidariedade com os migrantes cujos direitos humanos estão sendo violados, oferecendo proteção e defendendo sua liberdade, dignidade e segurança.
- Viver o Carisma Vicentino: Formar nossos membros nos ensinamentos de São Vicente de Paulo, fomentando um compromisso mais profundo de defender a dignidade de todas as pessoas, particularmente as mais necessitadas, incluindo migrantes e refugiados.
Pedimos às comunidades religiosas e leigas que ofereçam abrigo, defesa de direitos e assistência prática aos migrantes e refugiados. Como indivíduos, somos chamados a ouvir suas histórias, dar voz às suas vozes e agir para garantir que eles encontrem a segurança e as oportunidades que procuram.
Petições aos líderes nacionais
A Família Vicentina apela aos líderes de todo o mundo para que adotem políticas que respeitem a dignidade humana e cumpram os acordos internacionais que protegem os direitos dos migrantes e refugiados. Medidas que exacerbam o sofrimento – como a separação de famílias, a detenção prolongada e as deportações sem o devido processo – são inaceitáveis. Como membros de uma comunidade global, temos a responsabilidade moral de apoiar os mais vulneráveis.
Como membros da Família Vicentina, unidos por nosso compromisso com a justiça e a compaixão, pedimos respeitosamente aos líderes nacionais que
- Estabeleça políticas de migração humanas: promulgue e defenda leis que respeitem a dignidade inerente dos migrantes, priorize a reunificação familiar e forneça caminhos claros e acessíveis para o status legal.
- Impeça as deportações em massa: garanta procedimentos justos que protejam o devido processo legal e evitem a separação de famílias e danos às comunidades.
- Garantir a proteção legal: Proteger os direitos dos refugiados e dos solicitantes de asilo, cumprindo os acordos internacionais de direitos humanos e facilitando o acesso à representação legal.
- Abordar as causas básicas da migração: Trabalhar com agências internacionais para combater a pobreza, a violência, a falta de moradia e os fatores relacionados ao clima que forçam as pessoas a migrar.
- Aumentar os serviços de apoio: alocar recursos para garantir condições de recepção seguras e dignas para os migrantes, incluindo acesso a acomodação, assistência médica e educação.
- Rejeite a xenofobia e a discriminação: promova narrativas inclusivas que reconheçam as contribuições positivas dos migrantes e crie unidade em vez de divisão.
- Proteger crianças e populações vulneráveis: Garantir que as políticas de migração priorizem a proteção de crianças e outros grupos vulneráveis, reconhecendo suas necessidades e vulnerabilidades específicas.
Pedimos aos líderes que endossem esses apelos como passos essenciais para a construção de um mundo mais justo e compassivo, baseado na dignidade e na solidariedade.
Uma oração pelos migrantes e refugiados
Deus compassivo e misericordioso, Vós sois o refúgio dos cansados, a esperança dos deslocados e o defensor dos que não têm voz. Nós o recomendamos a todos os migrantes, refugiados e solicitantes de asilo, que passam por situações de perigo e incerteza em busca de segurança e enraizamento.
Abra os corações daqueles que estão no governo para que promulguem políticas baseadas na justiça, na misericórdia e no respeito à dignidade humana. Fortaleça as comunidades de fé para que sejam sinais de seu amor, acolhendo estranhos como amigos e familiares.
Conforte aqueles que sofrem rejeição e desprezo e dê-lhes esperança em meio à adversidade. Que nós, como Família Vicentina, sejamos instrumentos de Sua paz, sempre ao lado dos vulneráveis e buscando Seu rosto no estrangeiro.
Pedimos isso por meio de Jesus Cristo, seu Filho, que andou entre nós como um migrante e nos chama a amar sem fronteiras. Amém.
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