A missão vicentina nos ensina que a pobreza tem muitas facetas e se apresenta de diversas formas no mundo. Quando falamos de pobreza, normalmente pensamos na falta de recursos básicos, como alimento, moradia e saúde, mas a realidade é muito mais ampla. Além da pobreza material, há também a pobreza espiritual e a pobreza humana, ambas igualmente graves e desafiadoras.

Como membros da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) e da Família Vicentina, somos chamados a enfrentar diversas formas de pobreza, principalmente essas três mais explícitas e gritantes, oferecendo não apenas ajuda material, mas também apoio espiritual, emocional e humano aos que mais necessitam.

A pobreza material é a mais visível e imediata. Ela se manifesta na fome, na falta de moradia digna, na escassez de oportunidades de trabalho e na ausência de acesso à saúde e à educação. Quantas famílias assistidas pela SSVP vivem essa realidade diariamente? Jesus nos ensina: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6, 20).

Nosso papel como vicentinos é aliviar esse sofrimento por meio da caridade concreta, oferecendo alimento, roupas e apoio para que essas famílias possam caminhar com mais dignidade. No entanto, nossa missão não pode se limitar à doação de bens materiais, pois a pobreza tem outras dimensões que também precisam ser combatidas urgentemente, e muitas delas são mais complexas de debelar.

A pobreza espiritual é ainda mais perigosa e a mais profunda, pois se manifesta na ausência de Deus na vida das pessoas. Muitas vezes, encontramos assistidos que possuem o básico para viver, mas que carregam um vazio interior, um desânimo profundo, uma falta de fé que os impede de enxergar esperança. Há também pessoas ricas em termos de dinheiro, mas pobres na relação com Deus: “Doce é o sono do trabalhador, mesmo que ele coma pouco ou muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir” (Eclesiastes 5, 12).

Jesus nos alerta: “Dai, e vos será dado; colocarão no vosso regaço medida boa, cheia, recalcada, transbordante” (Lc 6, 38). Quando compartilhamos a Palavra de Deus, quando convidamos alguém para participar de uma celebração, quando oferecemos um simples momento de oração, estamos ajudando a combater essa forma de pobreza. Como vicentinos, não podemos nos esquecer de que nosso trabalho vai além da assistência material: somos evangelizadores pela caridade.

Por fim, há a pobreza humana, que se revela na indiferença, na insensibilidade e na falta de compaixão pelo sofrimento do próximo. Vivemos em um mundo onde o egoísmo, o consumismo e a cultura do descartável tomaram conta da sociedade. Famílias se desestruturam, filhos são vistos como um peso, idosos são abandonados, valores humanos universais são deixados de lado.

Em Lucas 6, 31, Jesus nos exorta: “Como quereis que os outros vos façam, fazei também vós a eles”. A falta de empatia e o desprezo pelo próximo são formas de pobreza que distorcem a dignidade humana. Nosso desafio, como vicentinos, é combater essa mentalidade, promovendo a fraternidade, o respeito à vida e o amor ao próximo.

Diante dessas três formas de pobreza, precisamos refletir: nossa caridade tem sido também espiritual e humana, ou apenas material? Como vicentinos, somos chamados a aliviar as dores do corpo, mas também as do coração e da alma. A verdadeira caridade não se resume a dar coisas, mas a dar-se, a estar presente, a oferecer apoio e esperança. Que nossa missão seja sempre completa e verdadeira, ajudando a transformar vidas em todas as suas dimensões.

Confrade Renato Lima de Oliveira foi 16º Presidente-geral da SSVP entre 2016 e 2023