Muitas boas intenções, pouca perseverança • Uma reflexão semanal com Ozanam

por | jan 11, 2025 | Formação, Reflexões | 1 Comentário

Sinto profundamente em mim um mal que, acredito, ser aquele de toda a geração atual. Há muitas boas intenções, muitas inspirações generosas, poucas resoluções e ainda menos perseverança. Eu vejo algumas inteligências altas, algumas vontades retas, mas pouca personalidade. Falo aqui das pessoas de bem. De todos os dons do Espírito Santo, o que falta mais é a fortaleza.

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Frederico Ozanam, carta a Theophile Foisset, datada de 21 de outubro de 1843.

Reflexão:

  1. Muitas vezes, quando se passa pela vida de Frederico e pelo momento histórico que ele teve que viver, não conseguimos evitar fazer analogias com o momento atual. Sem dúvida, aqueles foram tempos diferentes em muitos aspectos, mas também com alguns pontos de encontro. E isso, do qual fala Frederico, pode ser um deles.
  2. Frederico reclama que (no seu tempo) as intenções eram boas, mas raramente se materializavam em algo prático e concreto; e, menos ainda, que elas tinham uma certa continuidade temporal (“perseverança”). No nosso tempo, vivemos situações complexas, em múltiplos níveis: os problemas se acumulam sem que se perceba que medidas seguras estão sendo tomadas para resolvê-los. Então:
    1. Há muita conversa sobre uma classe dominante (“políticos”) medíocre e corrupta. Mas … que medidas efetivas estão sendo tomadas para resolvê-lo?
    2. Todos nós enchemos nossas bocas com a proteção do meio ambiente, nossa aldeia global, os perigos do desmatamento, as mudanças climáticas, a poluição da nossa atmosfera e dos mares. Mas … os acordos multinacionais, o Protocolo de Kyoto de 1997, o acordo de Paris de 2015, tantas propostas que foram feitas a esse respeito, chegam a uma conclusão feliz, ou vão além de declarações de boas intenções, que nunca se materializa em fatos?
    3. Sabemos que está em nossas mãos o fim da fome no mundo, se aqueles que têm o poder para fazê-lo levarem isso a sério. É fato que produzimos alimentos mais que suficientes para satisfazer todo o planeta, mas a distribuição injusta dos recursos de produção e consumo condena um em cada seis seres humanos à fome: “Nos últimos 12 anos, o Objetivo de Desenvolvimento do O Milênio (MDG) de reduzir pela metade a fome até 2015 tem sido o principal fator de redução da fome. A proporção de pessoas com fome nos países em desenvolvimento diminuiu significativamente, de 23,2% em 1990-92 a 14,9% hoje. No entanto, esta diminuição se deve mais a um aumento da população mundial do que à ligeira redução no número real de pessoas com fome, de aproximadamente 980 milhões para 852 milhões hoje” (veja El fin del hambre y la desnutrición).
    4. Falta de trabalho e insegurança no trabalho são um problema da mais alta ordem no mundo. Todos nós reconhecemos isso. Mas… que iniciativas são dadas que priorizam a dignidade pessoal e o direito ao trabalho reconhecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em seu artigo 23: “Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses”. Nós realmente vemos a situação atual refletida neste parágrafo?
  3. Haveria muitos mais pontos para poder dizer … E Frederico continua: ele vê muitas inteligências e vontades retas, mas poucas pessoas de caráter, poucas pessoas com carisma suficiente para fazer a diferença e reverter a situação. Não é, talvez, essa situação também em nossos tempos?
  4. Ozanam nos diz que o dom do Espírito Santo da Fortaleza está faltando (então e, certamente, também agora). A fortaleza é a virtude que nos assegura contra o medo das dificuldades, dos perigos e dos empregos que surgem na execução de nossos empreendimentos, uma disposição que o Espírito Santo coloca, na alma e no corpo, para saber sofrer, empreender as obras mais difíceis, expor-se aos mais terríveis perigos e suportar as obras mais duras e as dores mais amargas. E tudo com constância.

Questões para o diálogo:

  1. É verdade que o que Frederico diz neste texto é também uma realidade do nosso tempo?
  2. Que outras boas intenções que não são especificadas poderiam ser acrescentadas àquelas já mencionadas na reflexão?
  3. O que podemos fazer para melhorar as situações de injustiça que vivemos?
  4. Como vivemos, pessoalmente e em comunidade, essa necessidade do espírito de Fortaleza? Pedimos a Deus que nos dê coragem para enfrentar as situações difíceis que inevitavelmente surgem quando nos colocamos do lado dos oprimidos?
  5. Somos capazes de encarar a realidade e tentar transformá-la, sem medo de conflito?

Javier F. Chento
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1 Comentário

  1. Fernando Teixeira

    Muito bem concordo em 200%.
    A 12 e 13 de outubro vamos ter na diocese do Porto, uma visita do 16 pres CGI e se eu poder vou pegar no seu texto e explorar como: as suas reflecoes.
    Para mim vejo com pouca simpatia uma certa vaidade ainda, de alguns presidentes de alguns Conselhos nacionais em Portugal.
    Penso que falta viver a matiz de S.Francisco Assis.Ainda andam com sapatos:(bons carros, boa vida em convivio, etc,etc) a muitos falta assinar no papel é o compromisso com o “Pacto das Catacumbas”
    Pobres ricos…

    Responder

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