Jubileu de 400 anos da Congregação da Missão

por | jan 10, 2025 | Formação, Jubileu 400 anos | 0 Comentários

Com gratidão e renovado compromisso de seguimento a Cristo evangelizador dos pobres, a Congregação da Missão celebra seu Jubileu de 400 anos de sua fundação. Todo jubileu é um acontecimento de grande relevância espiritual, eclesial e social; é um tempo que nos permite redescobrir e celebrar toda a força e ternura do amor misericordioso do Pai a fim de, por nossa vez, sermos suas testemunhas. Este Jubileu, tempo de graça, de perdão e de esperança, nos possibilita um renovado renascimento no amor de Cristo, intensificando a oração de gratidão, a conversão e o compromisso ante a abundância da graça divina derramada em nossas vidas e trabalhos; é tempo favorável para abrir mais e mais nossos olhos e corações ao drama do sofrimento dos pobres abandonados e excluídos e fortalecer-nos como sinais e instrumentos de anúncio e testemunho da Boa Nova anunciada por Cristo aos pobres.

Este Jubileu nos convida revestir-nos do Espírito de Cristo, a voltar sempre mais a Jesus e nele centrar nossa vida.

Jesus é o Verbo Encarnado, é o “Divino Pobre”, é Deus presente no mundo para compartilhar a sorte dos humildes e anunciar-lhes o Reino. Jesus Cristo é o centro de nossa vida e missão e razão de nossa paixão pelos pobres. Dizia São Vicente: “Nosso Senhor é nosso Pai, nossa mãe e nosso tudo”. “Rogo a Nosso Senhor que Ele seja a vida de nossa vida e a única aspiração de nossos corações”. Nossa tarefa consiste em dar-nos a Cristo, expressão máxima do amor misericordioso de Deus Pai, para que Ele, através de nós, continue essa mesma missão. Esta é hora de voltar mais e mais a Cristo, aprofundar o encontro pessoal com Cristo e nele centrar nossa vida. Em nosso mundo, onde há o perigo de, segundo palavras do Papa Francisco, “ser cristão sem Jesus”, este jubileu é uma inspiração e um convite para: reavivar nossa relação com Cristo; deixar-nos seduzir por sua pessoa e converter-nos a Ele; fortalecer a identidade de discípulos missionários de Jesus; e descobrir a compaixão como modo de como Deus quer reinar no mundo.

Este Jubileu nos convida a liberar a força do Evangelho e a recuperar o seu frescor original.

São Vicente atuou sempre em sintonia com a Palavra de Deus, compreendida e vivida sempre à luz da realidade dos pobres e da Igreja. A centralidade da Palavra em São Vicente de Paulo é um apelo para buscarmos “recuperar o frescor original do Evangelho”, centrar a vida na pessoa de Cristo e no essencial da sua mensagem, pois só Ele pode renovar nossa vida, nossa comunidade e tirar-nos dos esquemas egoístas e ultrapassados. É hora para irmos ao “coração do Evangelho”, libertando-o de tantas doutrinas secundárias e esquemas religiosos que tiram “o perfume do Evangelho” e desafiando-nos a superar formas desvirtuadas de cristianismo, das quais não se pode brotar uma autêntica prática de vida cristã.

Este Jubileu nos convida a aprofundar e abraçar a mística da caridade missionária de Cristo.

“Só um coração inflamado do amor de Deus é capaz de contagiar os outros”. Esta profunda convicção tornou São Vicente uma pessoa de fé e oração profunda e autêntica, comprometida, realista e atenta aos problemas concretos, com uma profunda “unidade entre ação e contemplação”. A intimidade com Cristo acontece na paixão por Cristo nos pobres. Trata-se de uma paixão espiritual que se expressa no compromisso de um amor afetivo e efetivo, que leva “a amar a Deus com a força dos braços e o suor do rosto” e faz que ação e oração caminhem juntas. É uma paixão revestida dos sentimentos e atitudes de Cristo, uma mística da missão e da caridade, onde em Cristo os pobres são nossa herança e os destinatários da evangelização, onde somos chamados a ser uma profecia do amor preferencial de Cristo pelos pobres… Em nível pessoal e comunitário, esta mística missionária nos propõe ir aos necessitados e promover um testemunho de fé com o “cheiro dos pobres”. Ante o atual contexto sociocultural que enfatiza o individualismo e o consumismo e cria uma diminuição do fervor missionário, esta é hora de, individual e coletivamente, sair da “zona de conforto”, do comodismo, da estagnação, evitar formas desvirtuadas de vivência da fé, tais como o mundanismo espiritual, espiritualidades pouco sadias que visam só o bem-estar e a prosperidade pessoal e certos estilos de vida longe de Deus e dos pobres… Somos chamados acolher a capacidade inovadora da experiência caritativa e missionária de São Vicente, a sua criatividade e a sua santidade. Somos a desafiados, segundo os apelos do Papa Francisco, a “não deixar que nos roubem o zelo missionário”, “a alegria evangelizadora”, “o Evangelho”, e a “nunca deixar os pobres sozinhos”.

Este Jubileu nos convida a uma profunda consciência de amor missionário à Igreja e a ser uma Igreja missionária, profética e pobre para os pobres.

A vocação vicentina nasceu de uma “consciência pastoral inquieta” diante de situações concretas de pessoas cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor. No encontro e diálogo com os pobres e sua realidade, São Vicente viu no apelo do pobre o apelo de Cristo aprofundou a compreensão da Igreja como o corpo místico de Cristo, obra do Pai, guiada pelo Espírito Santo e continuadora da missão de Cristo. A missão da Igreja é evangelizar, sobretudo os pobres, que são “os membros mais preciosos do corpo de Cristo”. Continuadora do mistério de Cristo, a Igreja deve prolongar sua pobreza, sua predileção pelos pequenos e sua identificação com eles. Esta proximidade e compromisso com os pobres serão para São Vicente o sinal da pertença à verdadeira Igreja e o critério para discernir a fidelidade da Igreja à sua missão. Esta dimensão eclesial presente no carisma vicentino nos chama hoje a abraçar e assumir intensamente os apelos e sonhos do Papa Francisco, que deseja uma Igreja “em saída, profética, sinodal e em conversão missionária”. A Igreja deve ser “uma Mãe com os braços abertos”, “toda misericordiosa”, para fazer-se solidária e servidora dos pobres e sofredores, comprometer-se com a justiça e anunciar com alegria a Boa Nova no diálogo e no encontro com todas as pessoas.

Este Jubileu nos convida ao compromisso integral com os pobres e a uma ação integral e transformadora de missão e caridade.

São Vicente não se limitou apenas à pregação ou a uma simples assistência social. Ele soube conjugar o anúncio com a caridade, a pregação com a promoção, dimensões de uma mesma ação missionária que busca a salvação da pessoa toda e de todas as pessoas. Missão e caridade são duas faces de um mesmo serviço, que leva a Palavra que liberta e salva e procura construir a fraternidade e transformar as causas que geram pobreza e injustiça. São Vicente afirmava: “Não pode haver caridade se não for acompanhada da justiça”. Ele nos desafia a voltar a Jesus e sua missão libertadora, recuperar a dimensão histórica e social do Reino de Deus, abraçando o projeto humanizador e compassivo do Pai, um projeto de vida fraterna e de construção de um mundo de justiça e dignidade para todos, a partir dos pobres e excluídos. Aqui se coloca hoje o desafio para todos nós: assumir uma ação missionária e caritativa, integral e libertadora e um modo de agir dentro de uma dinâmica crítica, profética e transformadora, e com estratégias adequadas e coerentes.

Este Jubileu nos convida à renovação da experiência comunitária e sinodal de caminhar juntos, na ajuda mútua, na participação e na colaboração, em favor dos pobres.

O trabalho empreendido por São Vicente foi marcado por um profundo sentido eclesial e espirito de diálogo e colaboração. São Vicente reuniu ricos e pobres, membros do clero e leigos, homens e mulheres; valorizou muitíssimo os leigos, sobretudo as mulheres; mobilizou e formou as boas vontades para um trabalho colaborativo. A experiência de São Vicente é hoje um grande convite para que, contra as pobrezas e suas causas, trabalhemos juntos. A colaboração ajuda a promover a partilha solidária dos dons, abre perspectivas de revitalização, dá impulso para novas e criativas ações e projetos conjuntos. A colaboração é uma expressão e uma exigência da virtude vicentina do zelo e se desenvolve a partir das atitudes de humildade e responsabilidade. Na experiência de São Vicente, mestre da colaboração, precisamos uns dos outros. A colaboração requer uma atitude de reciprocidade, interdependência e abertura ao trabalho conjunto com o outro. A colaboração fortalece a missão, amplia o seu horizonte, não nos deixa cair no perigo de fechar-nos em nossas dificuldades, carências e interesses. A consciência da missão comum e os seus desafios cada vez mais inquietantes e comuns devem conduzir-nos à superação de barreiras e interesses ideológicos, culturais e de grupo e promover a ajuda mútua, tudo em benefício dos pobres. “Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto!” (EG, 99).

Este Jubileu convida a Congregação da Missão a uma revitalização missionária e vocacional.

Presente e atuante numa Igreja inserida num mundo globalizado, pluralista, secularizado e em contínua mudança e com múltiplos apelos pastorais, a Congregação da Missão deve trabalhar suas prioridades e preocupações não na busca de destaque ou projeção no ambiente social e eclesial, nem de sobrevivência, mas no abraçar e cultivar seu ideal missionário, com renovado ardor, fidelidade ao carisma, espírito de fé, firme propósito de conversão e criatividade missionária. É chamada a pedir perdão pelos seus pecados, erros e equívocos ao longo de sua história; é desafiada a renovar-se e desenvolver sua vitalidade vocacional, revitalizando sua realidade atual no confronto com os novos apelos dos pobres. É convocada à criatividade missionária, empenhando-se em viver e promover: uma busca contínua de reconfiguração missionária dentro do atual cenário social e eclesial; uma vida de testemunho, na abertura e engajamento na diversidade de serviços junto aos pobres e à formação; um caminhar na perspectiva profética e sinodal, junto com os pobres, a Família Vicentina e outras forças eclesiais e sociais, sem pretensões de protagonismos e exclusividades próprios; e uma missão assumida e renovada no espírito das cinco virtudes. Nesta disposição decididamente missionária e comunitária, devem ser pensados, planejados e executados todos os esforços e iniciativas possíveis de promoção, revitalização e dinamização da missão, da formação, da promoção vocacional, da vida espiritual e comunitária… E nesta exigente empreitada de fé e esperança, de muito trabalho e total confiança em Deus e docilidade ao seu Espírito, importa-nos caminhar juntos, sempre em frente, amparados e animados pelas sábias palavras de São Vicente: “Deixemos Deus conduzir a nossa pequena embarcação; se ela lhe for útil, Ele a preservará do naufrágio”.

Papa Francisco nos desafia: “Estamos abertos às surpresas de Deus ou nos fechamos, com medo, à novidade do Espírito Santo? Estamos decididos a percorrer os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta ou nos entrincheiramos em estruturas caducas que perderam a capacidade de resposta?” Deus continua hoje nos surpreendendo e nos convidando a percorrer caminhos novos. Cabe a nós abraçar e assumir de modo renovado o testemunho de São Vicente, para, com generosidade, coragem e esperança, seguir firmes em nossa caminhada missionária, construindo outros 400 anos na fidelidade criativa à herança carismática deixada por São Vicente.

Pe. Eli Chaves dos Santos, CM
Fonte: Informativo São Vicente, Vol. LXI, nº 329, 2024
Província Brasileira da Congregação da Missão

 

Questionário para reflexão pessoal e em grupo

  1. O significado do Jubileu
    • O que o Jubileu significa para você como um tempo de graça, perdão e esperança?
    • Como você pode renovar seu compromisso com a missão de Cristo no dia a dia?
  2. Cristo como centro
    • De que maneira você pode centralizar mais sua vida pessoal e comunitária em Cristo?
    • Quais ações práticas você pode adotar para evitar ser um “cristão sem Jesus”, como alerta o Papa Francisco?
  3. A frescura do Evangelho
    • O que significa para você recuperar a “frescura original do Evangelho”?
    • Quais aspectos de sua vida ou comunidade poderiam ser libertados de “doutrinas secundárias” ou esquemas que obscurecem a mensagem de Cristo?
  4. A mística da caridade missionária
    • Como você pode expressar um amor afetivo e efetivo pelos pobres em seu entorno?
    • Quais passos você pode dar para equilibrar ação e oração em sua vida?
  5. Compromisso com os pobres
    • Como você entende a frase “não pode haver caridade se não for acompanhada de justiça”?
    • Quais ações concretas você pode realizar para enfrentar as causas da pobreza e da injustiça em sua comunidade?
  6. Colaboração na missão
    • Como você pode fomentar maior colaboração com outros — leigos, clérigos ou membros da comunidade — em favor dos pobres?
    • Quais atitudes de humildade e abertura você acredita que são necessárias para trabalhar juntos de forma eficaz?
  7. Renovação missionária e vocacional
    • O que no exemplo de São Vicente de Paulo inspira você a revitalizar sua vocação e missão?
    • De que maneira você pode contribuir para uma Igreja mais missionária, profética e pobre para os pobres?
  8. Conversão pessoal e comunitária
    • Quais são as “estruturas caducas” em sua vida ou comunidade que poderiam estar limitando a novidade do Espírito Santo?
    • Como você pode se abrir mais para as surpresas e os novos caminhos que Deus apresenta?
  9. A Igreja em saída
    • O que significa para você ser parte de uma Igreja “em saída” e solidária com os pobres?
    • Quais mudanças você poderia fazer em seu estilo de vida para se alinhar a essa visão?
  10. Esperança e criatividade missionária
    • Quais ideias criativas você poderia implementar para renovar a missão e a formação em sua comunidade?
    • Como você pode viver com mais esperança, generosidade e coragem no caminho missionário?
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