Na Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025: Spes non confundit, o Papa Francisco se dirige a todos os fiéis, “peregrinos de esperança, que chegarão a Roma para viver o Ano Santo e em quantos, não podendo vir à Cidade dos apóstolos Pedro e Paulo, vão celebrá-lo nas Igrejas particulares. Possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, ‘porta’ de salvação (cf. Jo 10,7.9); com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a ‘nossa esperança’” (1Tm 1, 1).

Neste sentido, os Missionários Vicentinos e todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados a serem “Peregrinos da Esperança” que vivem profundamente a misericórdia do Pai e vão ao encontro dos pobres para que também, neste abraço, experimentem o amor, acolhida, conforto e consolação do nosso Deus.

Todos somos chamados a viver uma vida intensa de oração. Conforme nos disse o Papa Francisco em sua catequese sobre a oração: “a vida de oração não se apresenta como uma alternativa ao trabalho e aos compromissos que somos chamados a realizar durante o dia, mas sim como aquilo que acompanha cada ação da vida”, ou seja, o Cristão aspira viver em contínuo diálogo com Deus, colocando-se em suas mãos com plena confiança em sua Providência e aprende com Ele a revelar aos irmãos e irmãs o amor de Deus pelo mundo e particularmente pelos pobres. C17.

Contemplamos neste convite o resgate de uma prática tão antiga quanto nova, para os nossos dias. Ultimamente, sentimos o tempo passar numa velocidade que distorce o conceito do tempo; somos atingidos diariamente por muitas mensagens e notícias de assuntos diversos; ficamos a maior parte do tempo conectados ao aparelho celular e às mídias sociais; ocupamo-nos com tantas atividades e afazeres e por vezes, ou na maioria das vezes, dedicamos escasso tempo para a oração.

Sabemos que a oração é o combustível da nossa fé. É o “respiro da vida” do cristão que não pode ser interrompido “nem mesmo quando estamos dormindo”. Isso nos leva a viver umas das máximas de São Vicente quando aponta que devemos ser ativos na contemplação e contemplativos na ação. A oração nos leva ao encontro com Deus e conosco mesmo. É necessário subir todos os dias ao monte para encontrar-se com o Senhor e nessa caminhada entrar na intimidade com Ele a partir do silêncio, do estar só, do abandono, da escuta do inaudível e da obediência da escuta.

A partir desse encontro diário e necessário nós nos encontramos, caminhamos juntos, partilhamos sonhos, reconhecemo-nos como irmãos. O Papa Francisco nos lembra que a oração é o lugar onde nos reconhecemos como parte da “única família de Deus” porque com a oração “fortalecem os laços da fraternidade que nos unem ao mesmo Pai”. É a oração que vai dando sentido a nossa vida comum porque nela encontramos o elo que nos une num mesmo propósito de vida, que quer ser doada a Deus e ao próximo. A oração comunitária nos leva a celebrar a fraternidade e fortalecer a missão, nos leva ao encontro com o outro e celebrar o perdão, nos leva à misericórdia do Pai e cultivar a esperança.

Para trilhar esse caminho como peregrinos da esperança, redescobrindo a força e o poder da oração, a Igreja nos propõe no subsídio “Ensina-nos a rezar” do Dicastério para a Evangelização um percurso que nos leva a viver e propiciar uma vida de oração pessoal e comunitária.

  • A oração na comunidade paroquial nos conduz por primeiro valorizar a Eucaristia como o lugar por excelência do encontro com o Senhor, onde nos alimentamos da sua presença viva. Somos chamados também a celebrar as Horas litúrgicas em favor da Igreja, do Povo de Deus e toda a humanidade. Nas 24 horas para o Senhor (sexta-feira e sábado que antecedem o IV Domingo da Quaresma) a união de toda a Igreja para um momento forte de oração e celebração da misericórdia de Deus. E a adoração ao Santíssimo Sacramento como tempo propício para estar na presença do Senhor num silêncio meditativo dispostos a receber D’Ele toda a benção.
  • A oração em família nos propõe a celebrar na comunidade local momentos específicos de oração e que esses momentos sejam significativos e frutuosos. A família – comunidade local – é uma escola de oração. E buscamos a oração comum na Liturgia das Horas, antes e depois das reuniões e refeições, no início e no fim de cada dia.
  • A oração dos jovens que mesmo no turbilhão das imagens, mensagens e likes colocam-se atentos à voz do Senhor que fala em seu coração. N’Ele se vai encontrando um caminho que dá sentido à sua existência… quantos jovens estão nesta busca e se voltam para a oração.
  • A oração como proposta para o retiro e retiros para intenso momento de oração. Dessa forma os retiros anuais e mensais nos fortalecem na missão e nos faz encontrar com as nossas necessidades identificadas às necessidades de Jesus que “retirou-se para rezar”.
  • A oração como elemento da catequese em que nos comprometemos como educadores da fé levar os irmãos e irmãs a viverem a oração como prática diária da vida cristã e proporcionar momentos fortes de oração nos tempos litúrgicos da Igreja.
  • A oração nos mosteiros de clausura nos recorda que na vida consagrada, dedicada a oração e trabalho as lamparinas da fé estão a iluminar o mundo através das orações destes tantos homens e mulheres que optam pela vida recolhida ao Senhor. Na vida apostólica também tantas consagradas e consagrados iluminam o mundo com seu testemunho de vida.
  • Por fim a oração nos santuários como lugares privilegiados da acolhida, da oração, do louvor, da gratidão, da peregrinação para o encontro com Deus que é misericordioso porque é Pai. E assim Jesus nos ensina a chamar Deus “Abba”, paizinho, pai. Na oração do Pai Nosso a condensação da nossa relação com Deus e com os irmãos. O convite à prática testemunhal da nossa fé. O desejo de tecer relações humanas e fraternas. A insistência em caminhar de “esperança em esperança”.

Foi num contexto de profunda oração, durante a Celebração da Eucaristia de 25 de janeiro de 1617, festa da Conversão de São Paulo, em Folleville (França), que São Vicente de Paulo proferiu o que para ele foi a sua primeira experiência missionária, seu primeiro sermão da Missão! “Chegou a hora da Missa. O povo invadiu a Igreja. Vicente chamou as crianças para junto do altar enquanto os adultos se comprimiam, ocupando todos os espaços vazios… Após a leitura do Evangelho, Vicente sobe ao púlpito. Todos os olhares se fixam naquele padre sério que, contrariando os costumes da época, usava cabelos curtos. Faz-se grande silêncio. Tem-se a impressão de que todosaté as crianças suspenderam a respiração. Vicente olha com um olhar cheio de ternura para todos e começa a falar… Fala sobre São Paulo, sua conversão, e logo entra na conversão do cristão que se concretiza pelo sacramento da misericórdia, da reconciliação… Fala sobre os resultados de uma boa confissão: paz, alegria, tranquilidade, bem-estar…” (GOCH, Aloisio. O meu herói Vicente de Paulo. Gráfica Vicentina, Curitiba, 2000). Foi nesta experiencia de fé, onde Vicente sentiu que esta era a sua missão, que era para ele a obra de Deus: levar o Evangelho aos camponeses pobres. Nasce aí o Carisma Vicentino, a Congregação da Missão, porém, é fundada oito anos depois, em 17/04/1625, que junto ao jubileu da Igreja, celebra, neste 2025, os seus 400 anos de fundação.

Como filhos da Igreja, nós Missionários, somos peregrinos da esperança junto aos pobres e excluídos; nas lutas pela dignidade da vida e pelo direito de todos. Somos um sinal de fraternidade sensíveis aos vulneráveis. Apontamos o caminho que leva a Cristo no encontro com os irmãos e irmãs que sofrem. Levamos a luz da esperança onde a desesperança começa a imperar.

Na circular de convocação para a celebração jubilar, de 4 de abril de 2023, o Superior Geral, Pe. Tomaž Mavrič, CM reza a Deus para que “nos conduza nestes primeiros dois anos de preparação a uma forte revitalização da nossa identidade espiritual e apostólica que resulte numa celebração digna do 4º Centenário desta é a sua ‘Pequena Companhia’.” E deseja que “cada dia seja, para cada um de nós, um tempo de conversão, de renovação, de regresso com entusiasmo a Jesus Cristo, nosso ‘Primeiro Amor’, para que, seguindo as inspirações de São Vicente de Paulo, possamos obter a graça nos tornarmos “Místicos da Caridade” no século 21 e além.

Para se renovarem nesse caminho, junto com Maria, os Apóstolos e São Vicente de Paulo sejamos homens de oração (pessoal e comunitária), de intimidade com Deus, de silêncio interior, de adoração e contemplação para que vivam com alegria e testemunho profético o Ano Jubilar 2025: Peregrinos da Esperança.

Pe. Weliton Martins Costa, CM
Fonte: Informativo São Vicente, Vol. LXI, nº 329, 2024,
Província Brasileira da Congregação da Missão.

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