A consagração vicentina na Congregação da Missão

por | fev 8, 2021 | Congregação da Missão, Formação | 0 Comentários

“Assim falam e atuam as almas verdadeiramente apostólicas que, consagradas plenamente a Deus, desejam que Nosso Senhor, o Filho de Deus, seja conhecido e servido igualmente por todas as nações da terra pelas quais Ele mesmo veio a este mundo, e estão decididos a trabalhar e a morrer por elas, como Ele o fez. Até esse ponto deve ir zelo dos missionários…” (SVP,285-286)

Introdução

Alguns acontecimentos da História potenciaram na igreja novas linguagens, novas estruturas e formas de ser e de estar que voltam a propor, de um modo criativo, a mensagem de sempre, o evangelho de Jesus Cristo. Estes tempos invocam o conceito bíblico de Kairós, o tempo favorável, a terra na qual Deus nos concede a oportunidade para proceder a uma justa afinação da praxis religiosa a partir de critérios claramente evangélicos. O despertar do sentimento religioso no contexto da Contra-Reforma católica, nos séculos XVI e XVII, traduz-se, entre outros aspetos, no surgimento de formas de vida consagrada que assumem um inequívoco sentido de missão. Vicente de Paulo, como veremos, distingue-se pela sua originalidade. A sua perspetiva de sacerdote distancia-se da visão do ministério apresentada pelo pseudo Dionisio areopagita como “o homem do culto” – uma visão assumida e desenvolvida por Bérulle, o mestre da escola francesa de espiritualidade do seculo XVII –, mas também a sua proposta como congregação não encaixa nas estruturas existentes de congregação religiosa. Na linha de pensamento de Santo Agostinho, para Vicente o Sacerdote é o Homem que se “consagra para a missão”, o novo apóstolo que é enviado a todo o mundo para pregar a Boa Nova(1). Por isso, e como resultado da sua experiência pessoal, a congregação que viria a fundar caracteriza-se pelo seu claro sentido de missão nas terras mais esquecidas, o lugar dos pobres.

Numa perspetiva histórica e através da análise dos documentos do Fundador, pretende-se com este estudo aprofundar o tema da consagração dos missionários Vicentinos, um tema que foi estudado, ainda que indiretamente, por distintos especialistas. Em primeiro lugar, numa vertente teológico-espiritual, analisa-se de forma genérica o conceito de consagração. Depois, deter-nos-emos na consagração de Vicente e qual a modalidade que propôs aos seus missionários. E porque a consagração não é coisa do passado nem uma realidade transitória, terminamos este estudo com algumas notas que nos podem ser uteis na hora de substanciar a consagração vicentina do nosso ser missionário Vicentino.

1 – Consagração a Deus

O Espírito Santo gravou no coração do homem uma sede de infinito e de plenitude que só se satisfaz no encontro com Deus. Quando, livre das amarras do mundo, o homem se empenha em cumprir a divina vontade segundo o exemplo perfeito, Jesus Cristo, realiza o desejo mais profundo para o qual foi criado. A aventura humana se desenrola de muitos modos; mesmo quando se distancia do criador, inconscientemente procura-O porque Ele se manifesta de variadíssimas formas.

A pluralidade de expressões da vida consagrada existentes na Igreja é uma resposta contextualizada à atração divina. Dissertando sobre as origens da vida consagrada, José M. Castilho descreve o despertar religioso, nos primeiros seculos da era cristã, o movimento de homens e mulheres que, sob o impulso do Espírito Santo, abandonaram o convívio com os outros, e fugiram para o deserto para ali começarem um modelo alternativo de viver a fé em Jesus Cristo. Na fase mais primitiva, esta nova forma de estar no mundo não se ocupava em fazer coisas, mas em ser, ou seja: as pessoas desejavam simplesmente assumir o modo de ser de Jesus Cristo e assumindo-o, tornavam-se influentes no mundo e na Igreja(2).

Hoje, como ontem, cada consagrado é um Sim ao chamamento de Deus que o convoca a atualizar no seu tempo e lugar os traços distintivos do Filho, o seu modo de ser e atuar no mundo. Jesus é o consagrado do Pai, o ungido, o Deus feito Homem que caminha, fala e atua sob a Inspiração do Espírito Santo. Ele é o modelo, a forma a partir da qual o consagrado con-forma e con-figura o seu modo de ser e de estar. Como sublinha Severino-Mª Alonso, “Jesus viveu a sua consagração precisamente como Filho de Deus: dependendo do Pai, amando-O sobre todas as coisas e entregue por inteiro à sua vontade”(3).

Todos os batizados são chamados a segui-lo e a imitá-lo tendo o divino modelo diante de si. Entre eles e para o bem de todos – assim o entendeu a tradição confirmada pelos documentos da igreja(4) – alguns são chamados a segui-lo mais de perto e, por isso, emitem votos de pobreza, castidade e obediência. Enraizada na consagração batismal, esta “consagração peculiar” por meio da profissão dos conselhos evangélicos é reconhecida como um modelo de vida “mais perfeito”. Em todas as circunstâncias, os membros que fazem a especial consagração são chamados a ser sinal para o mundo da primazia de Deus e a sua vida é sinonimo de entrega total para realizar a divina vontade onde quer que seja.

Neste sentido, não podemos esquecer que a vida consagrada é um aprofundamento da consagração batismal. O batizado, chamado por Deus, compromete-se a uma real configuração com Cristo. Os especialistas normalmente destacam um duplo sentido da palavra consagração: o ativo e o passivo. Por uma parte, Deus é o sujeito que chama e consagra, ou seja, que separa, reserva, escolhe, santifica e configura ao eleito com o divino modelo, Jesus Cristo. A sua consagração através dos votos é um passo decisivo na identificação com Cristo, evangelizador dos pobres, e, por meio dela, o missionário compromete-se a usar as mesmas armas para combater os três inimigos do reino: a ambição do ter, a busca do prazer e o desejo de controlar através do poder(5).

Este processo supõe uma verdadeira transformação interior e postula uma mudança ontológica. A metamorfose sagrada do ser exige uma total abertura à graça santificante para que a obra do consagrado seja evidente reflexo do divino atuar. Em suma, digamos que o consagrado é um seguidor de Jesus que, pela profissão dos conselhos Evangélicos, procura “perpetuar na igreja, de modo sacramental (visível, verdadeiro e real) o seu mistério de abaixamento, de consagração e de sacrifício total de si mesmo”. O consagrado re-presenta, ou seja, faz de novo visivelmente presente a Cristo na Igreja e para o mundo estas três dimensões essenciais do seu projeto de vida(6). O estado de consagrado implica assumir a forma de ser do Filho, ou seja, viver “as virtudes que este soberano mestre se dignou ensinar-nos com as suas palavras e exemplos”(7). Sem este compromisso pessoal e coletivo, para re-presentar o Missionário do Pai, convertemo-nos em funcionários mais ou menos especializados numa área, numa instituição que, para as pessoas do mundo, se assemelha a uma ONG.

2 – A consagração a Deus para a Missão em São Vicente de Paulo

O projeto que São Vicente propõe aos homens e mulheres não é resultado dum estudo teológico meticulosamente elaborado, nem resulta dum ego ambicioso em competição com as figuras cimeiras da Igreja do seu tempo como Bérulle ou Francisco de Sales. A sua proposta nasce da experiência. Assim trabalhou o Filho de Deus: «primeiro falou depois ensinou (RC). Primeiro, a história, o acontecimento. Depois, a reflexão, a procura de sentido, a organização. Em primeiro lugar, há um homem Vicente de Paulo que, nas suas humildes origens, deseja escapar ao caminho comum dos mortais. Estuda para ter um grande benefício e, ainda muito jovem, recebe as ordens sagradas que o habilitam para ser ministro ordenado da Igreja, o desejado status para conseguir um benefício social. Depois vêm os longos anos de muita tribulação nos quais, podemos dizer hoje, se enfrentam duas vontades: a humana e a divina.

Um momento decisivo é o período entre 1610-1616. Durante estes anos, as convergências de experiências fracassadas motivam a sua conversão a Deus. A acusação de roubo e, sobretudo, a problemática em torno da tentação contra a fé no contexto da ociosidade, segundo a descrição de Abelly, potenciam uma mudança total de perspetiva. O seu modo de ser e de estar no mundo sofre uma profunda alteração. Segundo o primeiro biógrafo, Vicente assume as tribulações do famoso doutor e só se livra delas, alcançando a serenidade quando, sob a inspiração da graça, assume a firme e irrevogável resolução de consagrar toda a sua vida, por amor a Jesus Cristo, ao serviço dos pobres(8).

A. Dodin destaca dois efeitos desta consagração pessoal. Esta, vai-se caracterizar num duplo modo: 1) Uma vontade constante de se dar a Deus para estar ao serviço das almas; 2) Estabilidade e equilíbrio(9). Vicente vivia atormentado pelas dúvidas. Ele será sempre um homem naturalmente cauteloso, mas a experiência de liberdade interior que experimenta no termo da prova e a decisão de consagrar-se totalmente a Deus converte-se num solo estável sobre o qual caminha confiante.

O ano seguinte, 1617, oferece-lhe os dados de que necessitava para dar corpo à sua consagração. As experiências fundantes de Folleville e Châtillon-le-Dombes serão maturadas no coração do santo para depois serem participadas por outros homens e mulheres, os consagrados vicentinos. A consagração a Deus concretiza-se na vida por meio do serviço aos pobres nas missões. A promoção dos últimos e esquecidos na atividade missionária e caritativa foi a resposta que o Espírito Santo lhe inspirou.

Em jeito de síntese, podemos dizer que a sua consagração se traduz na participação do amor afetivo e efetivo na missão de Jesus. A Sua história é uma missão permanente porque, até ao fim, assume sempre a liderança das missões, inclusivamente quando a fragilidade física ou os diversos afazeres o impedem de participar. Ainda assim, a partir do seu quarto em Paris, continua a dar orientações aos missionários no seu trabalho nas zonas rurais em qualquer canto da França(10). Outras vezes, contra todas as expectativas, participa ativamente, o que desperta a comoção das pessoas que o apreciam muito(11).

3 – Consagração missionária da nova congregação

A nossa comunidade de consagrados que hoje chamamos com o nome de Lazaristas e/ou vicentinos é constituída por um conjunto de homens que assumem uma forma de vida peculiar dentro da peculiaridade da consagração em geral. Como vimos, esta especificidade foi suscitada na Igreja e no mundo pelo Espírito Santo através de São Vicente. Toda a comunidade é herdeira do património espiritual do seu fundador e dele recebeu um legado que conserva e atualiza como forma de manter a sua identidade própria. A. Dodin assinala muito adequadamente que uma determinada forma de vida consagrada deve a sua existência ao impulso criativo do seu fundador e o corpo institucional leva consigo as mesmas inquietações, os mesmos anseios que o motivaram(12). Para melhor compreendermos os dados da atualidade – o que é isso de consagração vicentina dos primeiros lazaristas? – tentaremos, sucintamente, recordar algumas linhas com que se fez a história da Congregação da Missão e que definem a nossa fisionomia. A evocação de algumas datas e de certos documentos dão-nos a possibilidade de acompanhar a passagem duma consagração pessoal, a do Fundador, para a de um grupo, a Congregação da Missão.

3.1. Duma pia associação à Congregação da Missão

O contrato de fundação da piadosa associação, assinado em 1625 por Vicente e os Gondi, contém as preocupações pastorais do Fundador, as mesmas que, salvo ligeiras variações, se mantêm constantes e serão assumidas pelos eclesiásticos que se hão-de agregar à dita associação. O objetivo geral é pôr fim ao abandono espiritual do pobre povo do campo. A associação deveria ser constituída por eclesiásticos de reconhecida doutrina, piedade e capacidade, que renunciassem a todas as comodidades da Igreja para, com o beneplácito dos bispos, se dedicarem inteira e exclusivamente à salvação do pobre povo, «indo de aldeia em aldeia, com as despesas à sua custa, pregando, instruindo, exortando e catequisando essas pobres gentes e levando-as a fazer a uma boa confissão geral de toda a vida passada»(13). O citado texto contém o tema que será o «guião principal» do projeto da Companhia, aliás o mesmo que motivou a consagração do Santo. Os verbos «pregar, instruir, exortar, catequisar», associados à promoção da confissão geral dos pobres aldeões que «se condenam por não conhecer as coisas necessárias para a salvação e confessar-se»(14), são, em si mesmos, uma explicitação da missão que define a consagração dos missionários. É significativo que os mesmos verbos se evidenciam na ata de reconhecimento do arcebispo de Paris em 1626(15). Dois anos depois, em junho de 1628, quando Vicente escreve ao Papa Urbano solicitando a aprovação da dita associação, os verbos reaparecem. Os eclesiásticos pertencentes à nova sociedade são apresentados como sacerdotes da Missão ou Missionários pela sua consagração total, sob a direção de Vicente de Paulo, à salvação das gentes do campo. Comprometem-se a percorrer as aldeias, «pregando, exortando, ensinando em público e em privado os mistérios da fé necessários para a salvação que a maioria ignora por completo, dispondo os fiéis a fazer uma confissão geral de toda a vida»(16).

No lento processo de aprovação pontifícia, a indefinição jurídica inicial proporciona a formação duma nova realidade situada canonicamente sob o título de Congregação da Missão. Chamar-se-á «da Missão» porque teve como finalidade originária a evangelização dos pobres por meio das missões. Como sublinhou I. Zedde, «a pregação das missões é a forma fundamental e predileta da assistência aos pobres»(17). Isto foi e continua a ser a sua forma de consagração na Igreja. Isso mesmo nos recorda o Fundador, a 29 de outubro de 1628, alguns anos depois da aprovação pontifícia da companhia, quando numa das suas habituais sessões de formação sobre a perseverança das vocações comenta que foi Deus quem teve a iniciativa de suscitar a Congregação: «É Deus, é Ele que nos chamou e que desde toda a eternidade nos destinou para sermos missionários»(18). Há uma clara consciência da eleição divina, de consagração para a missão e, por isso, é que a Missão é, nada mais nada menos, que a razão de ser da sua existência. À semelhança do profeta Jeremias, ele insistia que o nascimento da Congregação da Missão tinha sido desejo de Deus desde o «ventre materno». Os missionários foram escolhidos e consagrados para «perpetuar» e «atualizar» os gestos misericordiosos do Senhor para com os mais frágeis e débeis. Havia outras comunidades missionárias, mas a novidade da Congregação da Missão se destacava pela sua semelhança com o grupo de Jesus e os Apóstolos: o sacerdote na Congregação é um novo apóstolo que, desprendido dos vínculos do mundo, se consagra por inteiro ao anúncio do Reino(19). Por isso dizia aos seus missionários que Deus tinha esperado mil e seiscentos anos para criar uma comunidade que fizesse o mesmo que Cristo fez: ir de aldeia em aldeia, anunciando a Boa Notícia aos pobres(20). Mais do que uma vez repete a mesma ideia: «nesta vocação vivemos de modo muito conforme a nosso Senhor Jesus Cristo que, ao aparecer, quando veio a este mundo, escolheu como principal tarefa assistir e cuidar dos pobres: Misit me evangelizare pauperibus (…). Não nos sentiremos felizes por estar na Missão com o mesmo fim que levou Deus a fazer-se homem? E sim, se se perguntasse a um missionário, não seria para ele uma grande honra dizer como nosso Senhor: Misit me evangelizare pauperibus? Eu estou aqui para catequisar, instruir, confessar, assistir os pobres. E que significa esta forma de viver como nosso Senhor, mais do que a nossa predestinação?»(21).

4 – Os votos, “uma santa invenção”

Como vimos, foi a profissão do voto de se consagrar totalmente a Deus para a evangelização dos pobres, em 1616, que resgatou Vicente da incerteza, ao mesmo tempo que proporcionou um sentido para a sua existência como sacerdote da Igreja. Podemos deduzir, pela leitura dos documentos da época, que Vicente era dotado de uma grande capacidade de envolver outros homens e mulheres para a mesma causa. Desde logo, constatamos o número crescente de eclesiásticos que se associam ao Santo para o projeto das missões. A eles, Vicente propunha-lhes, desde os primeiros anos, a consagração por meio da emissão dos votos numa modalidade que diferia daquela que professavam as instituições religiosas do seu tempo. Tratava-se de votos de devoção, ou seja, de consagração, estritamente privados, renovados cada ano, “sem reserva ao papa ou ao geral, e isto sem ter pedido autorização”(22).

Vicente estava determinado a que cada um se assemelhasse a Jesus Cristo, o Missionário da Palestina, o Enviado do Pai, a regra da Missão e, por isso, o ideal da dita companhia continha uma chamada forte a que cada membro trabalhasse pela sua própria perfeição e imitasse Jesus assumindo livremente os seus traços fundamentais: a sua obediência ao Pai, o seu despojamento total e a sua virgindade consagrada. Implicitamente esta finalidade estava anexada às modalidades da vida religiosa. Aludia às ordens canonicamente erectas que, segundo a terminologia da época, viviam em “estado de perfeição”, ou seja, professavam votos públicos e solenes de seguir e imitar Cristo nos seus aspetos históricos.

Com a aprovação da Congregação da Missão, em 1632, o Fundador tem o direito de estabelecer as normas necessárias para regular aspetos da atividade da Companhia, tais como a vida interna da comunidade, o trabalho apostólico e a vida espiritual. No que se refere aos votos, a prática livre da renovação anual é considerada cada vez mais insuficiente para uma estrutura que necessitava de estabilidade e um compromisso mais firme por parte dos seus membros no seu trabalho apostólico. Quando as intenções do Fundador se tornam mais claras, dentro e fora da Congregação, surgem vozes contra: os bispos e os párocos olhavam com desconfiança e alguns dos que haviam entrado na comunidade protestavam porque a sua entrada tinha-se realizado sem a perspetiva dos votos.

Vicente tinha consciência de que o estado religioso comprometia gravemente a natureza e os fins da nova Companhia. Mas como assinalou R. Maloney, ele queria “aproveitar a riqueza que oferecia a tradição, modelando um tipo de comunidade que combinava estabilidade dos mosteiros, o ministério profético dos mendicantes, e a contemplação ativa dos Jesuítas”(23). Em suma, queria o melhor de dois mundos. Por outra parte, como homem muito pragmático, a sua valorização dos votos era também uma solução para o problema de falta de perseverança de alguns membros. Eles entravam na comunidade muito animados, mas depois do entusiasmo inicial nas missões, a dureza do trabalho e a falta de gratificações fazia que desertassem do grupo. Estas saídas fomentavam um ambiente de instabilidade que punha em questão a atividade apostólica da recém-nascida comunidade. Para pôr remédio a este mal, o missionário seria convidado a fazer um quarto voto, o da estabilidade, através do qual se comprometia a viver para sempre na Congregação da Missão.

Depois de um longo trabalho de clarificação da natureza e da necessidade dos votos, mediante cartas e conferencias, Vicente solicita e recebe, em outubro de 1641, do arcebispo de Paris, a aprovação dos quatro votos. Ainda assim, as dificuldades e as dúvidas persistiam.

Nas assembleias de 1642 e de 1651, o tema foi abordado pelos delegados e procurou-se o maior consenso possível. Na primeira, foi proposto continuar ou não a prática segundo a aprovação do arcebispo, optando-se por segui-la não obstante algumas contestações(24). Mais tarde, em 1651, o relato da assembleia é revelador de uma forte tensão interna. Os assembleistas manifestaram-se uns a favor, outros contra. Em resposta às dúvidas, como conclusão, Vicente repete as suas razões: “1º porque é algo que une mais perfeitamente a Deus; 2º une a companhia e aos seus membros, e não custa então enviar a uma pessoa mais de 50 léguas de aqui para um seminário, ou para que vá às índias, etc. Fazem-nos mais conformes a Jesus Cristo, mais capacitados para as nossas funções. Há mais igualdade entre nós e mais firmeza nos sujeitos”(25). Alguns anos depois, na carta ao P. Blatiron, enviado a Roma para assessorar sobre a aprovação dos quatro votos(26), Vicente apresenta sete razões. Mencionamo-las, em síntese, porque refletem o pensamento maduro do Santo e dele podemos deduzir as consequentes motivações. Vicente dá-se conta da importância da linguagem dos votos como forma de dar vitalidade ao corpo da jovem Companhia. Ainda que sejam simples, eles são o reconhecimento publico da expressão canónica da consagração por parte do sujeito que as emite. Fundamenta-os do seguinte modo: 1) A providência quer que os chamados estejam numa situação agradável a Deus e este estado de perfeição é o que Nosso Senhor abraçou na terra e que fez abraçar os apóstolos. 2) As pessoas que emitem votos e se entregaram a Deus trabalham com maior fidelidade no seu trabalho espiritual e apostólico. 3) É comum a realização de promessas para que as pessoas permaneçam vinculadas a Deus e a causas diversas. Assim o é desde o AT. 4) A sabedoria de Deus obrou desta forma e inspirou este uso, por causa da ligeireza do espírito humano que é pouco constante nos seus propósitos. 5) O superior geral e os seus delegados reunidos em assembleia aprovaram esta prática. 6) Foi fruto do discernimento e de oração, e por isso, manifestação da Vontade de Deus. 7) Foi a prática durante treze anos e não se pode mudar por causa de uma minoria que pensam de outra forma.

Em suma, o processo de aprovação dos votos na Congregação da Missão requereu muito esforço e determinação do Santo que teve a recompensa, em 1655. Com o breve “Ex Commissa Nobis”(27), o Papa Alexandre VII aprova-os, segundo a proposta de Vicente já previamente homologada pelo arcebispo de Paris, em 1641. Foi necessário o máximo de cuidado com a sua formulação para que a nova congregação não ficasse refém de uma legislação que, todavia, desconhecia as formas que hoje clarificamos como Sociedades de Vida Apostólica. Vicente considerava-os como uma “santa invenção”(28) resultante da ação da divina Providência. Eram votos simples de pobreza, de castidade, de obediência e de estabilidade na Companhia, com o fim de dedicar-se por toda a vida à evangelização do pobre povo do campo. Os votos deveriam ser emitidos ao fim do biénio de formação no seminário, sem que ninguém os aceite em nome da Congregação nem do Papa, só podendo ser dispensados deles pelo Papa e superior geral. Não obstante a consagração pelos votos, os membros da Congregação da Missão permaneciam membros do clero secular, “a religião de São Pedro”, e a Congregação estava isenta dos Ordinários, expeto no que respeita às missões.

4.1 Votos: A expressão de uma consagração para a missão

No tempo do Fundador, o tema dos votos foi terra fértil para múltiplas preocupações. Obrigou à reflexão, oração e, em certas situações, a tomar medidas mais extremas como o afastamento dos membros que resistiram ao projeto por ele apresentado e apoiado pela maioria(29). Os votos, como expressão da consagração a Deus para a missão, são estruturadores da nossa identidade como Congregação. Eles são a espinha dorsal de uma estrutura óssea que são as regras e as constituições. Emílio Cid num estudo prévio às atuais constituições, afirma que os conselhos evangélicos e os votos são uma “matéria muito importante e complicada”(30). Dissertando sobre o tema, nos finais da década de 60, o padre Dodin põe o assento em duas questões que considera fundamentais: “Qual é a natureza do vínculo que une os membros da Congregação? É somente uma promessa? Se é um voto, qual a natureza deste voto?”(31). Pérez Flores, por outro lado, analisa-os sabiamente desde a perspetiva teológico-espiritual e a jurídica-canónica. O autor recorda que na atualidade, o Código de Direito Canónico, situa a Congregação da Missão nas denominadas Sociedades de Vida Apostólica. Elas assemelham-se aos Institutos de Vida Consagrada(32) e a sua principal finalidade é apostólica(33). Nasceram simplesmente da vontade de Deus Pai, sob a inspiração do Espírito Santo para dar continuidade à missão do Filho. Semelhança, sublinha o autor, não significa identidade. Ou seja: a não pertença aos Institutos de Vida Consagrada não significa que o missionário não seja um consagrado. À pergunta se se pode considerar consagrado um missionário vicentino, a resposta é categórica: sim, porque na igreja há expressões de vida consagrada que não sendo reconhecidas canonicamente como Institutos de Vida Consagrada são-no na prática: “Os missionários teologicamente são pessoas consagradas, ainda que canonicamente, não se considerem como tal”(34). Conclui o P. Pérez Flores.

4.2 Além das Normas

A Assembleia de 1969 debruçou-se sobre o tema da ambiguidade de certos pressupostos da Congregação quando um dos assembleistas pôs em evidência algumas contradições do fundador: por uma parte, Vicente disse que a Congregação não era uma religião, mas, por outra, introduz nas Regras Comuns práticas conventuais, como o capítulo de faltas, o silêncio no refeitório, a recitação do ofício comum, etc. Mais ainda: São Vicente foi consciente da ambiguidade. Na carta que escreveu ao padre Rivet, no dia 28 de julho de 1658(35), adverte que não convinha falar de votos mas de virtudes, dado que as “pessoas do mundo podiam tomá-los como votos religiosos, apesar de que não o somos”(36). Podemos considerar esta opção fundamental iniciada por Vicente e continuada por tantos homens como um caminho ambíguo? Ou seria antes um caminho novo que tinha em conta as reais necessidades da Igreja do seu tempo e, por isso, suscitou a “invenção atrevida”? Parafraseando o Evangelho, penso que se pode dizer que os novos problemas não podem ser solucionados com velhos remendos: para vinho novo fazem falta odres novos. Portanto, Vicente inaugurou uma nova forma de consagração com a linguagem da sua época que continua sendo, no seu conteúdo fundamental, aceite, atual e reconhecida pela Igreja. Por outro lado, parece-me importante recordar que quando nos obstinamos em diferir juridicamente a realidade que é chamada a ser manifestação do Espírito de Deus para o mundo, as palavras, as expressões, e os raciocínios são sempre insuficientes e imperfeitos. As regras oferecem, à semelhança de um mapa, as pistas de orientação e as restantes linhas para ajudar o viajante na sua caminhada. O missionário Vicentino é chamado a orientar-se por esta linhas pelas quais é possível atualizar em cada tempo e lugar a Regra da Missão, Jesus Cristo. A identificação com este modelo é o cumprimento do espírito de todas as regras, incluindo as que, por fragilidade humana, não se cumprem. Em conclusão, assinalamos três dimensões que julgamos caracterizar a consagração vicentina missionária:

1. O ser: da insuficiência à autenticidade

Envolvidos numa cultura que privilegia o espetáculo e a aparência, a eficácia dos dados estatísticos, é grande a pressão para fazer cada vez mais coisas. Muitas vezes estamos tão preocupados com o que fazemos ou o que devemos fazer, que nem sempre nos questionamos sobre a qualidade das nossas ações e se elas são uma consequência da nossa configuração real com Cristo. As sementes que lançamos à terra são as do Reino de Deus? Existe coerência entre o que somos e o que fazemos? Não padecemos de um ativismo estéril que nos afasta da “dimensão contemplativa, que pede oração, estudo, reflexão, diálogo, interiorização, confrontação do que se sabe como o que se faz”?(37) A crise do ser que é também uma crise de identidade, não a padecemos ainda hoje? Há que ter consciência de que certas formas de vida reduzem o nosso ser, o enfraquecem, e dividem, corrompem e debilitam e, às vezes, sem darmos conta, somos quase nada como consagrados.

No princípio, não era assim. No princípio, era o ser. O ser precede o fazer. O desafio do ser, inquietou São Vicente que procurou ser “alter Christus”. A divina inquietude foi transmitida aos missionários por meio de regras comuns. Por isso, entre os vários fins da Congregação, o fundador assinala a perfeição pessoal: “1º procurar a própria perfeição, esforçando-se por imitar as virtudes que este Soberano Mestre se dignou ensinar-nos com as suas palavras e exemplos”. Dedicar-se à própria perfeição, em linguagem de hoje, não significa dar corpo a um desejo narcisista de ser melhor que os outros. Trata-se, sobretudo, de assumir as implicações de um chamamento à santidade, gravado em nós, uma vez para sempre, no dia da nossa consagração batismal, uma consagração que foi aprofundada pela emissão dos conselhos evangélicos.

Em primeiro lugar está o ser, que exige a transformação daquele que foi eleito pelo ser divino. Ser um homem que remete para Deus nas suas palavras e silêncios, nos seus gestos e inquietudes. Um ser que seja pleno de consciência e vontade de cumprir a vontade de Deus. Um ser que simplesmente dá testemunho pela sua existência. Em linguagem do Fundador, significa ser revestido do espírito de Jesus Cristo para poder representá-lo com os seus traços(38), atuar em conformidade com as máximas evangélicas e plasmar o seu ser com as potências da alma da Congregação, as cinco virtudes(39).

Por outro lado, o ser verdadeiro, coerente, exerce uma atração irresistível(40). O ser autêntico é belo e na expressão atrevida de Dostoievski, “a humanidade pode viver sem a ciência, pode viver sem pão, mas nunca poderia viver sem a beleza, porque já não haveria motivo para estar neste mundo. Todo o segredo está aqui, toda a história está aqui”. Nós fomos atraídos pela beleza da mensagem de Jesus e contemplamos o olhar de Vicente. Mas, com os nossos muitos afazeres, ainda temos tempo para estar com o Criador belo? E será que as nossas vidas de consagrados transparecem a luminosidade bela do ser divino? Talvez a nossa forma de ser não desperte a atitude de surpresa nos outros. E sem beleza não há verdadeira missão. Tudo se torna doente e passageiro.

2. A missão: concretizando o “sonho missionário de chegar a todos” (EG,31)

Os relatos evangélicos colocam em evidência que Jesus chamou os apóstolos para “estar com Ele”. Ele é o mestre que prepara a cada um para depois enviar, para que façam o mesmo que Ele fez: anunciar o Reino de Deus. Depois da ressurreição, sob a liderança de Pedro, Jesus confia-lhes o mandato de ir até os confins do mundo em missão. Na Igreja, como recordam os documentos conciliares, “já desde as origens existiram homens e mulheres que se esforçaram por seguir com mais liberdade a Cristo pela prática dos conselhos evangélicos e, cada um segundo o seu modo peculiar, levaram uma vida dedicada a Deus; muitos deles, sob a inspiração do Espírito Santo, viveram na solidão ou formaram famílias religiosas às quais a Igreja, com a sua autoridade, acolheu e aprovou de bom grado”(41).

Como Missionários Vicentinos, sabemos que o nosso modo de seguir Jesus realiza-se na missão. Faz parte do nosso ADN e fomos consagrados para a missão: “evangelizar os pobres”. Entendemos esta missão num sentido dinâmico. Assim como Vicente no seculo XVII alarga o campo de missão e diversifica os modos de realização – zonas rurais, galés, formação do clero, missões ad gentes, etc. – a nossa missão pode concretizar-se de variadas formas: numa paróquia ou capelania, num Seminário ou na universidade. Muda a linguagem, mas o espírito missionário é sempre o mesmo.

A consagração missionária remete para o mistério da encarnação: “o Verbo habitou entre nós” (Jo1,1) e assumiu um rosto humano. A missão caracteriza-se por um movimento de saída, de descida à realidade, até aos confins do mundo. A participação na missão do Filho de Deus faz-nos participar na situação real e concreta das pessoas que fomos chamados a evangelizar e por quem nos devemos deixar também evangelizar, porque elas são “nossos mestres”. A rutura entre a forma de vida dos missionários e a população onde se insere a comunidade pode ser um contratestemunho que desacredita o anúncio. Não nos esqueçamos que a secularidade da Congregação da Missão recorda, por um lado, a nossa condição de clérigos que exercem a sua atividade pastoral sob a alçada dos Bispos e em comunhão com os párocos. Mas, por outro lado, invoca a vivência do mistério da encarnação. Se não estamos encarnados não podemos caminhar, partilhar o pão e viver o Evangelho dos pobres. A “santa invenção” que fez da Congregação uma espécie de “anfíbio canónico” foi com um propósito bem claro para a missão entre os últimos e esquecidos. Hoje, sob o pontificado do Papa Francisco, se a Igreja é chamada a retomar a via missionária, mais ainda o deve fazer a nossa Congregação pela sua “consagração peculiar” à missão.

 3. Vida em Comum: “como amigos que se querem bem”

No tempo do Fundador, havia algumas semelhanças entre a sua fundação e a dos padres do Oratório. Coincidiam em alguns fins, mas diferenciavam-se nos meios, sobretudo no que refere à centralidade da vida comunitária. Com normas explicitas para modelar a vida comunitária, algumas delas, segundo assinala o P. Coste, coincidem quase literalmente com as constituições da companhia de Jesus (normas sobre a correspondência, a leitura à mesa, o silêncio).(42)Vicente tinha clara intenção de potenciar a comunidade enquanto grupo que trabalha, como um só corpo, regido pelas mesmas leis e princípios, para a missão. Deste modo, a nova congregação distanciava-se do modelo comunitário inaugurado pelo seu antigo mestre, o cardeal P. Bérulle, que, segundo se comentava com ironia, era uma “decente pensão” e não uma comunidade(43). Vicente fundamenta teologicamente o ideal da comunidade no mistério da Trindade a quem os missionários estavam chamados a “venerar de maneira especialíssima”, como modelo de comunidade perfeita e uniforme(44). Em suma, a comunidade por um lado é espaço de concretização do sonho evangélico dos primeiros cristãos que viviam com um “só coração e uma só alma” e, por outro, satisfaz as mais profundas aspirações humanas, a necessidade de estar com o outro, manter relações de amizade e confiança com os seus semelhantes. A comunidade, como espaço de fraternidade, potencia a realização pessoal e, como consequência, determina o empenho na missão. Sem comunidade não se vive a missão.

Hoje, no entanto, continuam atuais as palavras do P. Pérez Flores quando comentava o tema: “um dos grandes desafios que hoje tem a congregação, (…) é a vida em comum e o trabalho comum, como viver de uma maneira eficiente e concorde os valores evangélicos da castidade, pobreza e obediência, como viver em uníssono no mesmo zelo (…) como estar disponível para os projetos provinciais, como preparar-se profissionalmente para desempenhar responsavelmente o que se nos confia”(45). Numa palavra: como operacionalizar comunitariamente a evangelização? A ameaça que se dá nas nossas comunidades é que elas se transformem, na expressão do antropólogo francês, M. Augé, num não-lugar, ou seja, num território onde estamos de passagem mas sem chegar a vincular-nos. Ao contrário, animados pelo mesmo carisma, partilhando os mesmos fins, as nossas comunidades são chamadas a ser espaços de vida onde se concretiza a “Igreja de portas abertas”. Abertas não apenas para uma “saída em missão”, mas também de entrada e acolhimento da novidade, da dissonância e do imprevisto porque o Evangelho assim nos manda. Por fim, ser mais reflexo de Jesus Cristo para trabalhar melhor, tanto pessoal como comunitariamente, entre os últimos, isso é viver a consagração vicentina missionária.

____________________
1) Cf. MEZZADRI, Luigi, «Jésus-Christ, figure du Prête-missionnaire, dans l’ouvre de Monsieur Vicent», Vincentiana, 3-4 (1986), pp. 323-357.
2) CASTILLO, J. M., El futuro de la vida consagrada. Madrid: Ed. Trotta, 2004.
3) ALONSO RODRÍGUES, Severino-María, Consagración, en Dicionario teológico de la Vida Consagrada. Madrid: Publicaciones Claretianas, 1998, 3ª ed., p. 383.
4) Cf. Por exemplo, Lumen Gentium, n. 43 a 47; Perfecta Caritatis e Vita Consagrata de João Pulo II (1996).
5) Cf. RC, II, 18.
6) ALONSO RODRÍGUES, S., o.c., p. 384
7) RC, I, 1.
8) A narrativa de Abelly contem uma intencionalidade que difere daquela que atribuem a S. Vicente. O santo apresenta-a como uma história com objetivo catequético e moral. Abelly, por seu lado, descreve-a como um exemplo de maturidade espiritual do santo. Cf. ABELLY, Luis, Vida del venerable siervo de Dios, Vicente de Paúl, Fundador y primer general de la Congregación de la Misión, 1664. Salamanca: CEME, 1994, p. 630; SVP, XI, 725-736.
9) DODIN, A., «Los votos en la espiritualidad vicenciana», en AA. VV., Vicente de Paúl, pervivencia de un Fundador. Salamanca: CEME, 1972, pp. 110-111.
10) Numa carta de 28-11-1632 ao Padre Portail, por exemplo, S. Vicente de Paulo detém-se a explicar a forma de ir a Joigny e quais devem ser os serviços de cada padre na Missão: «a ordem que demos é que o senhor Pivillon fique com as pregações, e os padres Renar, Roche, Grenu e Sergis farão as explicações: o primeiro, o símbolo; o segundo, os mandamentos de Deus; o terceiro, as orações dominicais e angelus; e o quarto, os sacramentos; e para o pequeno catecismo, os padres Roche e Sergis deverão ficar livres do mesmo, quando preguem o grande; e você, padre, tenha cuidado com a direção da equipa. Peço a Nosso Senhor que lhes dê abundante parte em seu espírito e nas suas condutas» SVP, I, 229.
11) Tinha já uns 72 anos e continua a participar nas missões. A duquesa de Aiguillon comentava: «não posso deixar de estranhar muito que o Pe. Portail e os demais bons padres de S. Lázaro permitam que o padre Vicente vá trabalhar no campo com o calor que faz, com os anos que tem e permanecendo debaixo deste sol. Penso que a sua vida é demasiado preciosa e demasiado útil para a Igreja e para a Companhia para que se deixe descuidar desta maneira». SVP, IV, 546, nota de rodapé. Para uma visão mais geral sobre este tema, cf., por exemplo, PUJO, Bernard, Vicent de Paul, the trailblazer. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2003, pp. 71-114.
12) «Toda a comunidade religiosa faz referência e apela ao espírito do seu fundador para se conservar e justificar. Dele recebe a sua fisionomia e inclusive a força para não ser mais do que o prolongamento da sua carreira e o reflexo da sua santa existência. A instituição, na sua complexidade legislativa, executiva, judicial, não tem outra finalidade que fazer viver o espírito do fundador». DODIN, A., Espíritu de San Vicente, espíritu de la misión, en AA. VV., Vicente de Paúl pervivencia de un fundador. Salamanca: CEME, 1972, p. 80.
13) Cf. SVP, X, 237-241.
14) SVP, I, 176.
15) Cf. SVP, X, 241-242.
16) SVP, I, 122.
17) ZEDDE, I., «Evangelización», en Diccionario de Espiritualidad Vicenciana. Salamanca: CEME, 1995, p. 236.
18) SVP, XI, 33.
19) Cf. SVP, XI, 172.
20) Cf. SVP, XI, 387.
21) SVP, XI, 33-34.
22) SVP, V, 299 e 434. Para o tema, seguimos, em particular, ROMÁN FUENTES, José Maria, San Vicente de Paúl: I Biografia. Madrid: BAC, 1982, pp. 322-344; BRAGA, C., «Las Constituiciones de la Congregación de la Misión. Notas históricas». Vicentiana, 4-5 (2000), pp. 291-308; LLORET, M., «Votos», en Diccionario de Espiritualidad Vincenciana. Salamanca: CEME, 1995, pp. 617-622; IDEM, «Consejos Evangélicos», en Diccionario de Espiritualidad Vicenciana. Salamanca: CEME, 1995, pp. 95-101; PÉREZ FLORES, M., Revestirse del espiritu de Cristo. Expresión de la identidad vicenciana. Salamanca: CEME, 1996, pp. 185-284.
23) MALONEY, R., «Como amigos que se aman profundamente. Reflexiones sobre la vida en comunidade ayer y hoy». Vicenciana, 4-5 (2000), p. 337.
24) Cf. Carta ao P. Jolly, SVP, V, 435.
25) SVP, X, 413.
26) Cf. SVP, V, 295-302. O Pe. Blatiron defendia uma posição que não coincidia com a de Vicente. Ele tinha como modelo a Companhia de Jesus que mantinha uma prática diferenciada: apenas os que desempenhavam cargos faziam os votos.
27) SVP, X, 436-448.
28) SVP, III, 224.
29) Numa carta dirigida ao Pe. Portail, Vicente partilha com o destinatário a sua reação categórica e intransigente para com os contestatários dos votos: «aquele que não estiver decidido a perseverar deve retirar-se». SVP, III, 223-224.
30) CID, E., «La declaración sobre los consejos evangélicos e los votos». Vicenciana, 3 (1976), pp. 101-115.
31) DODIN, A., «Los votos en la espiritualidad vicenciana», en AA. VV., Vicente de Paúl, pervivencia de un Fundador. Salamanca: CEME, 1972, p. 107.
32) O cânone 731: «aos Institutos de Vida Consagrada, se assemelham as Sociedades de Vida Apostólica, cujos membros, sem votos religiosos, buscam o fim apostólico próprio da sociedade e, levando uma vida em comum, segundo o próprio modo de vida, aspiram à perfeição da caridade por meio da observância das Constituições». A expressão «se assemelham» é muito contestada por alguns especialistas pois não traduz o espírito da expressão original que seria mais «ao lado de».
33) O P. Pérez Flores sintetiza em quatro linhas as caraterísticas das Sociedades de Vida Apostólica. São elas: a) a finalidade apostólica; b) a vida em comum; c) Procurar a perfeição da caridade; d) possível prática dos conselhos evangélicos, PÉREZ FLORES, M., Revestirse…, p. 228.
34) Ibidem, p. 221.
35) SVP, VII, 193.
36) Texto citado por PÉREZ FLORES, M., Revestirse…, p. 262-263. A. Elduayen refere-se ao mesmo quando diz que «iria parecer que a Congregação sofre de ambiguidade desde as suas origens» e, em nota de rodapé, estende esta apreciação enumerando algumas causas: os nossos muito nomes, os nossos muitos fins, o não ser nem religioso nem laico, a natureza dos nossos votos. ELDUAYEN, A., «La identidade de la Congregación según los Artículos 1-9 de las Constituiciones de 1980». Vicenciana, 4-5 (2000), p. 310.
37) PÉREZ FLORES, «Identidad de los ministérios de la Congregación de la Misión, 1994, pp. 124-143.
38) Cf. SVP, XI, 383.
39) Cf. RC, II, 14.
40) O Papa Francisco aprofunda o tema da beleza do anúncio do Evangelho no documento EG, n. 167s: «anunciar a Cristo significa mostrar que acreditar n’Ele e segui-l’O não é apenas algo verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de encher a vida de um novo resplendor e de uma alegria profunda, mesmo no meio das dificuldades. Nesta linha, todas a expressões de verdadeira beleza podem ser reconhecidas como uma luz que ajuda a encontrar-se com o Senhor.
41) Perfecta Caritatis, n. 1.
42) COSTE, Pierre, El gran santo del gran siglo: El Señor Vicente. Salamanca: CEME, t. II, 1990-1992; CORERA, J. – «Las Reglas o Constituciones Comunes de la Congregación de la Misión». En AA. VV., Vicente de paúl, la inspiración permanente. Salamanca: CEME, 1982, p. 199.
43) SVP, X, 402.
44) Cf. RC, X, 2; XI, 104-106 e, sobretudo, a conferência de 23 de maio de 1659 sobre a uniformidade, SVP, XI, 538-551.
45) PÉREZ FLORES, «Identidad…», Vincenciana, 1994, p. 133.

Nélio Pita, CM
Fonte: https://www.padresvicentinos.net/

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