Lições que aprendemos durante a pandemia. 1: Quão importantes são nossos idosos

por | jul 1, 2020 | Formação, Reflexões | 0 Comentários

O mundo inteiro sofre com a pandemia do covid-19 já a alguns meses; todos nós fomos obrigados a tomar atitudes severas para evitarmos o contágio: isolamento, higiene meticulosa, distanciamento social… A sociedade paralisou e uma crise econômica ameaça agora o aumento do número de pessoas infectadas, não apenas em sua saúde, mas no seu bem-estar e qualidade de vida, entrando em situação de pobreza ou agravando ainda mais sua situação de desamparo.

Pode resultar algo bom de tudo isso? Nós cristãos cremos num Deus misericordioso, pai de todos, e cremos na capacidade de fazer o bem ao ser humano. A esperança está intimamente ligada à fé cristã. Por isso, sabemos que, inclusive em situações tão devastadoras como a que vivemos, temos muitas lições positivas para aprender e conservar. Esta série de artigos irá falar sobre elas. Não de todas, mas de alguma em particular. Não globalmente, senão a partir da experiência pessoal daquele que escreveu cada artigo.

A cada semana, um membro da Família Vicentina partilhará conosco uma experiência vivida nestes últimos meses. A partir do íntimo de seu coração, irá propor uma mensagem de esperança, porque (estamos convencidos) também podemos tirar lições positivas desta pandemia.

Todos temos consciência de que os mais afetados nesta atual pandemia foram as pessoas de mais idade. Nossos avôs, pais, amigos e vizinhos, idosos… tem sofrido com as consequências da pandemia, em certos casos agravado com doenças anteriores, próprias da idade, e em muitos casos, com um fim fatal. Tanto é verdade que na Espanha, do total de falecimentos pelo covid-19 até o momento, mais de 85% tinham mais de 70 anos.

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Javier F. Chento
SSVP – Espanha

Meus pais são idosos, tem mais de 75 anos de idade. São autônomos e em meio a suas enfermidades, mantém uma vida ativa e independente. Suas vidas não têm sido fácil: nasceram durante a guerra civil espanhola (1936-1939) e sofreram muito no pós-guerra. Com poucas chances de frequentarem uma escola além de terem aprendido a ler, escrever, somar e diminuir, começaram a trabalhar ainda como crianças na roça. Com menos de 20 anos emigraram para Bilbao, uma região da Espanha onde havia um crescimento significativo na indústria. Aqui se conheceram e constituíram uma família. Apesar da pobreza e das muitas necessidades durante a vida, cuidaram e educaram os três filhos que, chegado o tempo, deixaram a casa paterna para constituírem suas próprias famílias.

No meu caso, igual a muitos outros, tudo o que sou e o que tenho, devo a seus cuidados, carinhos e sacrifícios.

Quando a pandemia nos obrigou o confinamento, no início de março, meu primeiro pensamento foi até meus pais. Já tinha noção de que o isolamento iria se estender por muito tempo. Nós mais jovens tínhamos entretenimento para “passar o tempo”: nossos trabalho e ocupações, internet, hobbies e passatempos que tornaram o isolamento mais suportável. Porém, para meus país e muitos idosos que vivem sós, praticamente sua única distração era a televisão. Eu não podia suportar que meus pais ficassem isolados, experimentando uma terrível incerteza por conta das assustadoras notícias que chegavam através da televisão; assim que os visitava periodicamente (mantendo a distância e as medidas de segurança), falava com eles todos os dias e inclusive ensinei a eles fazerem videoconferências por WhatsApp para que pudessem ver seus filhos e netos. O confinamento tem sido também, uma oportunidade de conversar, o que não fazíamos com frequência desde que deixei a casa de meus pais e me tornei independente. Graças a Deus, estão com um quadro de saúde estável, apesar de que nestes meses tivemos perdas muito dolorosas em nossa grande família, por causa do coronavírus.

A história de meus pais durante a pandemia é a mesma de milhares, milhões de idosos que vivem sozinhos em nossa sociedade. Tive a graça de poder me aproximar de alguns deles, vizinhos do prédio ou do bairro, que com medo de sair de casa ou incapacitados de sair sem ajuda, solicitavam que levasse alguns pequenos recados ou fizesse compras. Na maioria dos casos, o medo e a solidão eram companheiros de suas vidas.

Durante esta pandemia, todos nós nos demos conta com cristalina claridade da terrível situação em que vivem muitos anciãos: a solidão costuma ser uma companheira constante, agravada devido à obrigação do distanciamento. Os seres humanos são seres sociais: necessitamos estar próximos uns dos outros, e abraçar e beijar nossos familiares e amigos. Tudo isso tem sido tirado durante a pandemia, e sentimos muita falta; e eles, os idosos, sentiram muito mais.

Apesar desta situação tão anômala, descobrimos muitas lições positivas para nossa vida pessoal e social. Uma das que me fortaleceu é quão importantes são nossos idosos: não só porque somos o que somos graças a seu trabalho no passado, mas porque eles são o que temos de mais precioso em nossas famílias e nossa sociedade, pessoas que sempre estão dispostas para nos acolher e nos ajudar, nos escutar e nos abraçar, com um amor puro, sem egoísmo. Quando os perdemos, uma parte de nós vai junto. Sem dúvida, a saúde da sociedade, ou de qualquer instituição, se mede pela preocupação que tem para com seus idosos.

Agora que a pandemia começa a ser controlada em muitas partes do mundo, assumamos o compromisso de cuidar com mais afinco e zelo dos nossos idosos: na família, nas comunidades, no bairro… eles tem muito a nos oferecer…. e farão com um amor generoso, se apenas pedirmos.


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