Nesta crônica, não irei discorrer sobre o trabalho dos confrades e das consócias perante aos mais carentes, nem abordarei a grave situação social em que o Brasil se encontra, tampouco sobre conselhos que eventualmente costumo sugerir aos dirigentes vicentinos. Falarei sobre as relações internas em nossas Conferências, inspirado na Carta-Circular do presidente mundial da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), cfd. José Ramón Diaz-Torremocha, que em 2006 já abordara essa temática.

Tenho observado, em algumas unidades vicentinas, uma certa “falta de paciência” em relação a confrades e consócias idosos. É preciso respeitar os mais velhos e permitir que eles participem efetivamente da reunião, partilhando suas experiências com todos. Os mais velhos têm muito a ensinar a todos com suas histórias e reflexões.

Também tenho percebido que temos pecado por falta de caridade entre nós e entre Conferências que atuam num mesmo local.

Quando duas ou mais Conferências funcionam na mesma paróquia é preciso que os presidentes estejam em perfeita harmonia, a fim de que a assistência vicentina, junto aos mais necessitados, seja a mais eficaz possível. Além disso, eventuais divergências entre nós podem passar uma impressão equivocada aos aspirantes, benfeitores e paroquianos em geral. “Vejam como se amam” deve ser o mandamento que nos guia.

Certos problemas podem de fato ocorrer quando duas ou mais Conferências utilizam as mesmas dependências (por exemplo, uma sala comum para reuniões semanais) ou dividem a administração de Obras Especiais ou projetos conjuntos. Porém, apesar de “compreensíveis e naturais”, tais conflitos devem ser evitados e, caso não seja possível, dirimidos sob o viés da caridade.

Temos que praticar, em altíssimo nível, as virtudes da paciência, da sensatez e do desapego do próprio parecer, tudo em nome de um clima mais cristão e mais propício para que o ambiente em nossas Conferências seja colaborativo e focado nos pobres que assistimos. Não podemos deixar que essas “pequenas coisas” atrapalhem sobremaneira a sintonia que nos une e nos santifica.

Nunca poderemos falar sobre “perdão” ou “reconciliação” nas visitas domiciliares se não praticarmos essas virtudes no seio das Conferências e dos Conselhos. Não teremos condições morais de cobrar de nossos assistidos “equilíbrio” e “bom senso” se não exercemos esses princípios entre nós. Portanto, temos que ser coerentes com nossa filosofia, nossa tradição e nossa prática vicentina.

Assim, Deus espera de nós uma tripla dimensão da ação caritativa: a primeira com os pobres (é a chamada “dimensão horizontal”), a segunda conosco mesmos (dimensão circular ou reflexiva) e a terceira com o próprio Deus (dimensão vertical). Meditemos nisso com atenção e mostremos ao mundo que, ainda que tenhamos problemas internos (afinal somos humanos), somos uma pastoral séria, comprometida com a causa do Reino e voltada unicamente para a redução das desigualdades sociais. Que assim seja!

Renato Lima de Oliveira
16º Presidente General de la Sociedad de San Vicente de Paúl

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